Uma lambança da prefeitura de Porto Alegre, que anunciou na quarta-feira (12) a primeira escola da cidade disposta a adotar o modelo cívico-militar, terminou em um desmentido do próprio colégio. Em uma nota divulgada nesta sexta (14), a diretoria da instituição informou que nunca aderiu à proposta.
Um detalhe que chamava atenção era o nome da escola pioneira: Leocádia Felizardo Prestes, uma homenagem à mãe do maior líder comunista brasileiro, Luiz Carlos Prestes (1898-1990). Em entrevista à coluna, a filha dele, Anita Prestes, chegou a dizer que a implementação do modelo – uma bandeira do governo Bolsonaro – seria "um acinte à memória" de sua avó. Mas Anita já pode ficar sossegada.
O diretor da escola em questão, situada na Cohab Cavalhada, zona sul da Capital, conta sua versão do que ocorreu.
– Recebi um formulário da Secretaria Municipal de Educação e preenchi. Minha intenção era oferecer à comunidade escolar a possibilidade de avaliar, entender a proposta e decidir. Não decido nada sem o conselho escolar, por isso manifestei interesse em conhecer as diretrizes – afirma Aldemir do Nascimento.
Ele conta que, após responder à secretaria, duas representantes da prefeitura visitaram o colégio acompanhadas da vereadora Nádia Gerhard (DEM) e do deputado Tenente-Coronel Zucco (PSL), ambos apoiadores de Bolsonaro. Aldemir sentiu certa pressão no encontro – reforçou, então, que precisava dividir a ideia com pais de alunos, professores e estudantes.
– Mas, na quarta-feira (12), o mundo veio abaixo com a nota no site da prefeitura – lembra o diretor.
A nota dizia assim: "Com a presença do ministro da Educação, Milton Ribeiro, o prefeito Sebastião Melo encaminhou (...) a indicação da Escola Leocádia Felizardo Prestes (...) como a primeira a fazer parte do projeto de escolas cívico-militares na cidade". Melo e a secretária municipal de Educação, Janaina Audino, concederam entrevistas confirmando a informação.
Procurada pela coluna, a assessoria da prefeitura disse que não comentaria a recusa da escola – o que é uma falta de respeito com o colégio, que, por causa da patacoada do governo, foi alvo de críticas, deboches e acusações de atentar contra a história de Leocádia Prestes. Acusações, aliás, que não têm cabimento algum: se o conselho escolar quisesse, de fato, adotar o modelo cívico-militar, tudo bem, quem manda na escola é a comunidade – e não a memória de Leocádia.
– Mas já deixamos claro, agora, que não queremos mais nem conhecer o projeto. Não é mais uma questão de aderir ou não aderir: perdemos a confiança, não queremos mais nem ouvir falar – diz o diretor Aldemir.