Concluída em 1904 após quase um século de obras, a histórica Igreja Nossa Senhora das Dores pode se tornar a primeira basílica de Porto Alegre. A expectativa é de que o título – concedido pelo Papa aos templos de maior relevância cultural do mundo – chegue à capital gaúcha até setembro.
– O processo tem sido muito rápido e, pelo tom das conversas, temos chances de 99,9% – acredita o padre Lucas Matheus Mendes, pároco da Igreja das Dores, a mais antiga da cidade.
Sob a supervisão do arcebispo dom Jaime Spengler, Lucas já venceu as duas primeiras etapas: a aprovação no âmbito local (do conselho de presbíteros) e no âmbito nacional (da conferência episcopal, a CNBB). Agora, a equipe das Dores elabora as repostas de um extenso questionário, com mais de 30 páginas, que o Vaticano exige.
– São todos os detalhes da igreja: arquitetônicos, históricos, litúrgicos, devocionais. Cada objeto e cada medida do prédio entra na relação. Já temos 65% do conteúdo pronto – afirma o pároco.
O título de basílica, em resumo, é um reconhecimento do Papa a igrejas que atendam a critérios como 1) alta veneração devotada por fiéis, 2) transcendência histórica e 3) beleza artística e arquitetônica. Entre as 71 basílicas brasileiras, duas estão no Rio Grande do Sul: o Santuário Nossa Senhora Medianeira, em Santa Maria, e a Catedral São Luiz Gonzaga, em Novo Hamburgo.
Em uma breve conversa com o arquiteto Maturino Luz, professor da PUCRS, e com o historiador e teólogo Edison Hüttner, que leciona na mesma universidade, ficou mais fácil para a coluna entender o diferencial maior da Igreja das Dores. Trata-se, antes de mais nada, de um templo que se confunde com a própria história da cidade.
Essa igreja faz parte da construção da identidade de Porto Alegre.
EDISON HÜTTNER
Historiador e teólogo
Quando vieram para cá, em 1752, os açorianos se estabeleceram nas proximidades de onde a igreja se ergueria. A construção começou em 1807, em estilo colonial, mas foi interrompida por falta de recursos – cinco décadas depois, a arquitetura da moda já era neoclássica, ou seja, o prédio assumiria dois estilos diferentes e, no início do século 20, ainda ganharia um terceiro, com as icônicas torres góticas de Julio Weise.
O resultado é uma joia da arquitetura eclética (justamente pela mistura de estilos) e, mais do que isso, é a própria cara de Porto Alegre.
– Essa igreja faz parte da construção da identidade da cidade. Imagine quantas pessoas participaram da obra, quantas famílias se envolveram, quantos fiéis acompanharam. Sem falar que é uma das primeiras igrejas de devoção a Nossa Senhora das Dores do país – diz Edison Hüttner.
Que venha o título do Papa.
Com Letícia Costa