Representante maior do chamado Brasil suado – aquela balada em que o ar-condicionado quase nunca dá conta, mas o entusiasmo do público e a boa música compensam tudo –, o vibrante Bate agoniza com a crise. O que ainda sustenta o bar, além da persistência dos três sócios, é um comovente apoio de frequentadores que aguardam o retorno de festas como Brazuca, Acabou Chorare, Pagodim 90 e Salve Jorge.
– Quando falam que o Bate é um espaço de resistência, é exatamente isso: diante de tantas adversidades, ele persiste. Se fechar, vai ser uma perda enorme para a cultura local – diz a percussionista Ananda Alliardi, 28 anos, que toca surdo na Turucutá, um dos grupos mais importantes no resgate do Carnaval de rua em Porto Alegre.
Situado na Rua João Alfredo, na Cidade Baixa, o bar que começou como Batemacumba, em 2006, era um dos poucos que, antes da pandemia, ainda abria espaço frequente para novos artistas. Assim como a Turucutá, bandas como Cachaça de Rolha, Chamegado Carimbó e Trabalhos Espaciais Manuais foram crescendo junto com a própria importância do local.
– Nos preocupamos com isso. Se a gente fechar, vai ter outro lugar para bandas que estão começando? – questiona Carolina Pizzato, 33 anos, proprietária do Bate ao lado de Diego Dresch, 41, e Katia Azambuja, 33.
Na quinta-feira passada (20), o trio fez um pedido desesperado nas redes do bar: precisavam de R$ 1,5 mil até o fim deste mês, para completar o pagamento de contas fixas, ou seriam obrigados a fechar a casa em definitivo. No domingo (23) à noite, com a ajuda de 53 pessoas, a vaquinha (ainda aceitando doações neste link) já havia arrecadado R$ 1,6 mil.
Não foi a primeira, nem a segunda, nem a terceira vez que os frequentadores salvaram o Bate nesses 14 meses de pandemia. Os sócios, criativos, vêm bolando campanhas desde o ano passado – em uma delas, quem doava dinheiro recebia recompensas e até cursos que outros clientes se ofereciam para ministrar.
Não vamos desistir. Quando a gente acha que não tem mais jeito, a galera mostra que tem.
CAROLINA PIZZATO
Sócia do Bate
– Tivemos oficina de manutenção de bicicleta, bate-papo sobre moda, curso de elétrica. Mas, aos poucos, o engajamento das pessoas naturalmente diminui – conta Carolina.
Outra alternativa para segurar as pontas foram as festas virtuais, cujo ingresso custava R$ 5, mas muita gente topou pagar até R$ 50 para ajudar no sustento do bar. Cada pessoa, claro, ficava na sua casa, em frente à câmera do computador, curtindo e dançando ao som dos DJs do Bate.
Agora, com a flexibilização dos novos decretos, Carolina destaca a vontade de reabrir o local. Ela reconhece, no entanto, que o espaço interno é pouco ventilado, então acha prudente estudar melhor o assunto.
– Somos bem rigorosos com os protocolos, mas não vamos desistir. Quando a gente acha que não tem mais jeito, a galera mostra que tem – diz a sócia do Bate, comprovadamente um lugar de resistência.
Com Letícia Costa