Por mais que evoluam bem as conversas entre a prefeitura e as empresas de ônibus, não é dali que vai sair a solução para baixar o valor da passagem – lembrando que Porto Alegre tem hoje a tarifa mais cara entre todas as capitais brasileiras.
Ou esse preço cai (está em R$ 4,55, ainda com chances de subir), ou nunca os ônibus voltarão a ser atrativos. E torná-los atrativos é a única forma de salvar o sistema de transporte público, hoje à beira do precipício.
Mediadas pela Justiça, as negociações entre o governo e as concessionárias tratam da repactuação dos contratos. Ou seja, é possível alterar questões como número de linhas, vida útil dos veículos, ar-condicionado ou letreiros luminosos, mas nada que vá impactar sensivelmente o valor da passagem. Uma mudança drástica exige coragem da prefeitura para apresentar um plano arrojado, provavelmente incapaz de agradar a todos. E esse debate precisa ocorrer na Câmara de Vereadores.
Até agora, nada de mais concreto apareceu. Não chegaram à Câmara nem os projetos que já haviam sido anunciados pelo governo, como o corte nas gratuidades e a extinção dos cobradores – que seriam treinados para assumir outras funções. E as propostas mais estruturais, que poderiam de fato financiar o sistema, não têm avançado internamente no governo.
No início do mandato, o secretário de Mobilidade Urbana, Luiz Fernando Záchia, demonstrou interesse em resgatar um projeto da gestão passada. Era a Taxa de Mobilidade Urbana: todas as empresas com sede em Porto Alegre, em vez de pagar vale-transporte aos seus funcionários, passariam a contribuir com um valor mensal à prefeitura. Isso garantiria, segundo os cálculos do governo anterior, passe livre para todos os trabalhadores com carteira assinada, além de passagem a R$ 2 para o restante da população.
Pode-se gostar dele ou não, mas esse é um projeto estrutural. A resistência maior à proposta, no governo Melo, vem da chamada ala liberal – esse grupo, encabeçado pelo vice-prefeito, Ricardo Gomes, dificilmente vai concordar com interferências tão claras do poder público na iniciativa privada. Tudo bem, é um ponto de vista. Mas alguma medida mais firme e consistente para derrubar a tarifa mais cara do país precisa aparecer.