Paulo Germano

Paulo Germano

Jornalista formado pela PUCRS, está em ZH desde 2006, mas foi em 2015 que se tornou colunista do jornal. Antes, atuou nas áreas de política, geral, cultura e esportes. É comentarista da RBS TV. Já venceu o Prêmio Petrobras de Jornalismo e foi finalista do Prêmio Esso. PG, como é chamado, escreve sobre vida real.

Naufragou

Prefeitura desiste da roda-gigante na Orla, uma notícia ruim para Porto Alegre

Mais uma para a lista de propostas ousadas que jamais saíram do papel

Paulo Germano

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Divulgação / PMPA
Projeção de como seria a roda-gigante de 80 metros de altura

Fiquei meio chateado. Adoro quando um governo tem ideias que transgridem a obviedade – eu sei, a lista de propostas ousadas que jamais saíram do papel é tão grande em Porto Alegre que, quando nos apresentam algo mais arrojado, nossa primeira reação é achar ridículo. Deve ser um mecanismo de defesa: melhor achar ridículo logo, porque, se o projeto naufragar, não fico frustrado depois. Mas confesso que nunca achei ridícula aquela roda-gigante de 80 metros de altura, pelo contrário: achava espetacular.

Ontem à tarde, em conversa por telefone, a secretária municipal de Parcerias, Ana Pellini, me confirmou que a construção da roda-gigante deixará de ser obrigatória para quem vencer a licitação do trecho 2 da Orla do Guaíba. A intenção é atrair mais interessados, mais empresários que topariam botar dinheiro ali.

Para ficar bem claro: com a roda-gigante, o futuro investidor teria de gastar R$ 70 milhões nas obras de urbanização da área – que incluem passeio público, bares, restaurantes, playground e um novo Anfiteatro Pôr do Sol. Sem a roda-gigante, o valor despenca para R$ 25 milhões. Como o cenário econômico é delicado, o atual governo preferiu abrir mão desse atrativo, que certamente seria único: um mirante giratório do tamanho do Centro Administrativo, com cabines panorâmicas fechadas, erguido sobre aquela estreita – e abandonada – península atrás do anfiteatro.

– Consultamos uma série de potenciais investidores, e o interesse foi pequeno justamente por causa da roda-gigante. Eles dizem que, só com a cobrança de ingressos, não seria possível obter um retorno razoável – conta Ana Pellini.

Eu entendo essa parte, claro, o projeto precisa ser viável. Aliás, a ideia da secretária, agora que o novo edital está quase pronto, é fazer uma nova consulta ao mercado para avaliar se a licitação deve ser lançada logo, ainda no primeiro semestre, ou se o momento atual pede alguma protelação, devido ao pico da pandemia.

É verdade que outra grande atração poderá ser construída, e talvez ela seja magnífica. Mas talvez seja comum. Ou talvez nem exista.

Tudo isso é correto, sem dúvida. Minha questão é a seguinte: vale a pena deixar praticamente todas as decisões sobre o futuro de uma área tão estratégica nas mãos dos empreendedores? Não que eles sejam malvados, nada disso, mas porque algum diferencial realmente inovador é o que faz uma cidade ser realmente inovadora. A roda-gigante cumpria esse papel: nenhum lugar do mundo teria aquilo, daquele jeito, naquele tipo de lugar.

É verdade que o vencedor da licitação poderá construir outra grande atração no local, e talvez ela seja magnífica. Mas talvez seja comum. Ou talvez ela nem exista, porque o edital deixará de prever essa obrigatoriedade. Melhor seria eu ter achado, desde o início, a roda-gigante ridícula. Não teria me frustrado.

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