Sobre o debate na Gaúcha, é verdade que o nível foi bom, que os candidatos se respeitaram, que a civilidade norteou as discussões entre Manuela e Melo. Também concordo que isso não é pouco: depois da virulência da eleição passada, ver dois líderes de ideologias distintas rejeitando a estupidez do extremismo é animador, sem dúvida.
Só não dá para perder o senso crítico. Portanto, farei uma crítica que considero construtiva aos dois candidatos – mas, antes, quero elencar outros elogios que Manuela e Melo merecem. O primeiro: eles conhecem a cidade.
Parece um requisito óbvio, mas nem todo prefeito assume o cargo entendendo os pormenores de cada região. Manuela e Melo dissertam com desenvoltura sobre as realidades do extremo Norte ao extremo Sul. Também impressiona a quantidade de dados, informações e números que eles trazem sobre os mais variados órgãos públicos.
Quer dizer: estudaram Porto Alegre. Concorde-se ou não com eles, os dois têm qualificação e preparo para ser prefeito – ou prefeita. Podem patinar em um assunto ou outro, dar uma enrolada aqui, outra acolá, mas Manuela e Melo sabem perfeitamente do que a cidade precisa. A diferença, claro, está nas soluções que cada um propõe para resolver os problemas.
E aí vem a minha crítica. Em geral, as soluções não empolgam. Faltam ideias, inovações, pulsação, inspiração nas propostas. Não que sejam ruins; são apenas mais do mesmo. Talvez no terceiro bloco do debate, quando falaram sobre turismo, tenha aparecido alguma vibração nas respostas. Melo prometeu repaginar as entradas da Capital, que de fato são horríveis, e Manuela propôs um calendário de eventos, algo fundamental para uma cidade ganhar vida.
Fora isso, nada muito arrebatador. Por exemplo, transporte público, tema que exige originalidade: as propostas ou não paravam em pé, ou eram insuficientes para resolver a maior crise da história do setor. Não estou defendendo projetos mirabolantes, mas a impressão é de que os candidatos estudaram tanto Porto Alegre – o que é ótimo –, que talvez tenham se dedicado pouco a conhecer experiências das cidades mais bem-sucedidas do mundo.
Isso quer dizer que o próximo prefeito, ou prefeita, fará um governo medíocre? De modo algum. Governar também é ouvir: se ele ou ela montar uma bela equipe técnica, capaz de abastecê-lo(a) com boas ideias, tudo pode funcionar. Ainda mais quando o governante conhece os problemas da cidade. É o caso de Manuela e Melo.