O primeiro debate entre os candidatos à prefeitura de Porto Alegre no segundo turno da eleição 2020 se diferenciou dos embates anteriores por uma questão fundamental: o nível. Com falas propositivas, Sebastião Melo (MDB) e Manuela D'Ávila (PCdoB) expuseram convergências e divergências, sem ofensas ou troca de acusações rasas. O eleitor agradece. Houve espaço até, durante o intervalo, para que Manuela cedesse uma de suas garrafinhas de água para o adversário, já que as dele haviam acabado.
A coluna listou três pontos do debate em que os candidatos divergiram e, de forma respeitosa, defenderam suas propostas:
Carris pública
A candidatura de Manuela D'Ávila reforçou postura para manter pública a empresa de ônibus de Porto Alegre. A gestão de Marchezan havia dado início ao debate para privatizá-la, diante de um déficit considerável que faz com que o Executivo precise aportar recursos. Sebastião Melo, por sua vez, disse não ter preconceito com parcerias público-privadas, sinalizando que não hesitaria se precisasse vender a companhia. Manuela foi questionada pelo mediador, Daniel Scola, sobre manter a empresa ainda que deficitária. Ao que respondeu: "quando era bem administrada, não teve déficit". Sobre o tema transporte como um todo, Melo afirmou que "não há solução única" e completou: "esse negócio de tudo público não funciona" e "não tem almoço de graça".
IPTU
O debate sobre o aumento do IPTU, implementado pela gestão Marchezan, foi um dos pontos altos do debate. Ficou claro que há uma divergência explícita entre Melo e Manuela, ou seja, duas propostas concretas e diferentes que podem ser avaliadas pelos eleitores. No caso de Manuela, ela defende que seja enviado ainda neste ano (pelo prefeito Marchezan, portanto) um projeto de lei suspendendo o reajuste para 2021, para os setores de comércio, serviços e indústria. A intenção é não penalizar aqueles que já estão sofrendo os efeitos econômicos da pandemia. "A prefeitura precisa ser parceira de quem investe, de quem empreende, de quem gera empregos". Já Sebastião Melo tem uma visão distinta. Ele diz que, se eleito, respeitará Marchezan até o último dia, e só proporá o cancelamento do aumento a partir do ano que vem. A ideia do candidato é que o aumento seja suspenso para todos (e não somente por um ano).
Pandemia e abre e fecha do comércio
Os candidatos foram questionados sobre como será o próximo ano, considerada a pandemia de coronavírus. E houve um ponto específico sobre a retomada da economia. Manuela citou como exemplo a gestão feita pelo Estado do Maranhão, que é governado por Flávio Dino (PCdoB). Ela disse que houve segurança para retomada das atividades. Manuela também defendeu que o Executivo municipal faça a "gestão própria da vacina. Não posso admitir que tenhamos um debate ideológico sobre a vacina".
Melo foi enfático ao dizer que o "abre e fecha", segundo ele, promovido pelo prefeito Marchezan (PSDB), "quebrou muitas empresas" e, neste sentido, "a economia precisa girar". O candidato disse que a vacina não será obrigatória, "tomará quem quiser". "Eu penso que economia e saúde devem caminhar juntos. Eu também penso em criar um comitê, pra que a gente possa tomar as melhores decisões com muito equilíbrio. Agora, este abre e fecha quebrou muita gente.A economia precisa abrir com os cuidados necessários"