A tendência, antes, eram apartamentos cada vez menores, mas em prédios com playground, salão de festas, quiosque, piscina, academia. Só que agora, com as pessoas confinadas, com o avanço do home office, com o convívio ininterrupto entre moradores da mesma casa, a situação se inverteu.
– O consumidor está buscando imóveis maiores, mais confortáveis. Ele quer um escritório melhor para trabalhar. E ele precisa de um espaço para se isolar dos filhos ou do cônjuge – avalia Fernando Erhart, sócio-diretor da imobiliária Foxter, de Porto Alegre.
Com a rotina limitada pelas paredes de casa, as pessoas também buscam varandas, sacadas e jardins. Fernando diz que a procura cresceu pelos chamados apartamentos garden, situados no térreo. Já as áreas compartilhadas, como parquinho infantil ou churrasqueira no prédio, deixaram de ser prioridade.
– Antes da pandemia, a tendência era o compartilhamento. De bicicleta, de carro, de espaços no condomínio. Agora, com esse choque de isolamento, certamente haverá um impacto nessa cultura, embora a gente não saiba o tamanho – projeta o presidente do Sindicato das Indústrias da Construção Civil (Sinduscon-RS), Aquiles Dal Molin Júnior.
Ele tem percebido, a partir de pesquisas encomendadas pelo sindicato, que o trabalho em casa estimula a procura por residências distantes da região central. Porque, segundo Dal Molin, o tempo de deslocamento até o serviço perde força entre os critérios na busca por imóvel. E, nas regiões mais afastadas, são maiores as opções de apartamentos e casas grandes.
– O que a gente nota, em resumo, é uma maior valorização da qualidade do tempo dentro de casa – diz Luís Henrique Stédile, CEO da Nethomes, uma plataforma de venda imobiliária digital.
Segundo ele, mesmo que a pandemia seja passageira, o home office já deu sinais de que veio para ficar. O consumidor, percebendo isso, começa a se preparar agora para uma realidade que deve se impor nos próximos anos. Por outro lado, Stédile não acredita em uma queda significativa nas vendas de apartamentos menores:
– Solteiros, divorciados e idosos, por exemplo, podem manter o conforto e a privacidade em espaços pequenos. Mas, para quem divide a casa com mais gente, a reclusão passa a ser uma necessidade.