A gente nunca ficou tanto em casa e eles nunca trabalharam tanto.
– Eu respondia 50 mensagens por dia. Agora, são 150 – diz o síndico profissional Edmundo Soares, que administra 12 condomínios em Porto Alegre.
Natural, claro: com o distanciamento social, a percepção dos moradores em relação a barulho, sujeira, segurança e tudo o que envolve a convivência entre condôminos aflorou. É queixa de móvel arrastando, criança correndo, música alta, funcionário sem máscara.
– As pessoas estão com os nervos à flor da pele, então, qualquer coisinha, nos acionam – conta a presidente da Associação dos Síndicos do Rio Grande do Sul, Mauren Gonçalves.
Edmundo afirma que as lives, tão populares em tempos de quarentena, às vezes são um problema quando o artista é conhecido demais: muita gente decide ver ao mesmo tempo.
– E com um bom volume, né? Vira praticamente um show – compara ele.
Está claro que os atritos entre pessoas da mesma casa também cresceram. Segundo Edmundo, quase todo dia alguém lhe pede indicações de apartamentos para alugar em outro prédio. Filhos irritados, esposas tristes, maridos cansados, tem muita gente se mudando:
– Acho que as pessoas chegam a um limite emocional. Aí, é independência ou surto.
Nos condomínios que o síndico Hamilton Kreutz administra, as reclamações têm até embasamento legal. Alguns vizinhos tentam fazer festinha no apê – convidam meia dúzia de amigos, compram cerveja –, mas os moradores recorrem aos decretos para protestar.
– Eles mostram os artigos que proíbem aglomeração. Está todo mundo com medo, inclusive eu, que sou do grupo de risco. Tenho pressão alta, mas, fazer o quê? Para um síndico, é quase impossível ficar em casa – diz Hamilton.
Com Rossana Ruschel