Mesmo sem autorização da prefeitura – que vetou a iniciativa –, um grupo de ativistas instalou nesta quinta-feira (9), em Porto Alegre, a primeira das 10 pias portáteis para moradores de rua lavarem as mãos.
O equipamento foi colocado embaixo do Viaduto da Conceição, no Centro Histórico. Até a próxima segunda-feira (13), conforme o coletivo Cozinheiros do Bem, todas as pias estarão funcionando em praças, largos e outros viadutos da Capital. A prefeitura não respondeu se vai retirar a que já foi instalada, nem se vai tentar impedir a colocação das próximas.
Para vetar a iniciativa, o Executivo havia alegado que as pias, na verdade, servem de estímulo para a população de rua continuar na rua. Ou seja: segundo a prefeitura, o ideal é atrair os sem-teto para a estrutura que o município oferece – albergues, tratamento de saúde e toda uma rede de apoio. Essa seria a estratégia mais eficiente para "garantir o isolamento e proteger a população de rua" do coronavírus, conforme nota que a Fasc havia divulgado.
Em resumo, as pias portáteis, instaladas em praças e viadutos, contribuiriam apenas para manter os sem-teto longe dos albergues. É um argumento frágil. Porque, vejamos: se a prefeitura, até hoje, não conseguiu levar centenas de sem-teto para os albergues, como pode agora botar a culpa em uma pia? Como pode concluir que as pessoas iriam para os albergues se, nas ruas da cidade, não houvesse pias? Aliás, não há pias hoje, e as pessoas ainda não foram.
Até porque lavar as mãos é diferente de almoçar, tomar banho ou pernoitar – operações que, em alguns casos, talvez até façam o morador de rua buscar a estrutura estatal. Lavar as mãos, não: lavar as mãos precisa ser mais frequente e, especialmente agora, muito mais acessível.
Por outro lado, não me parece a melhor estratégia, por parte dos ativistas, isso de atropelar a prefeitura e instalar as pias sem autorização. Não só porque o espaço público precisa de um regramento, mas porque, do ponto de vista prático, pode ser ineficaz. E se a prefeitura arrancar tudo? Afinal, a gestão do espaço público é dela. Teríamos só uma briga – nada de morador de rua lavando as mãos.
Bom seria se algum secretário do prefeito Marchezan – que vem conduzindo tão bem essa crise – topasse conversar pessoalmente com o líder do movimento, frente a frente (os dois de máscara, de preferência), em busca de um acordo. O diálogo é sempre um bom remédio.