A situação é difícil – e também é triste – porque vai contra a natureza humana: somos animais de grupo. Viver em uma cidade é justamente compartilhar espaços, interesses, sensações, atividades. E fazer tudo isso, mais do que saudável, sempre foi inevitável em qualquer sociedade.
Só que agora a coisa mudou. Isso acontece de vez em quando: em raras circunstâncias, como em guerras ou epidemias, o ser humano precisa renunciar à própria natureza grupal para se recolher, se retirar, e assim cumprir estratégias mais solitárias para superar as turbulências.
No caso do coronavírus, que assusta o mundo de ponta a ponta, os reflexos dessa melancólica – mas necessária – tática para evitar contaminações ganham, a cada dia, mais vigor em Porto Alegre. São lojas se esvaziando, escolas fechando, bares silenciando, amigos se afastando: a cidade perde entusiasmo e vibração porque, paciência, precisa mesmo perder.
Já ficou claro. Quanto antes as pessoas interromperem – ou, no mínimo, reduzirem – o contato social, maiores serão as chances de dissipar essa tensão. Os países que conseguiram frear o avanço do vírus, como Singapura ou Taiwan, fizeram assim. Os que demoraram para fazer, você sabe: veja o horror que assola a Itália.
É difícil viver desse jeito, é triste, é contra a essência coletiva do ser humano. Mas é exatamente para preservar o coletivo (se eu pegar o vírus, por exemplo, talvez nem apareçam os sintomas, mas posso transmiti-lo para alguém do grupo de risco) que a prudência e a consciência são fundamentais.
A cidade precisa ficar mais vazia. Precisa, infelizmente, ficar mais triste.