"Foi assim por três anos: era janeiro, todo mundo ia para a praia e eu ia para o hospital, fazer cirurgia. Tenho um tumor, um linfoma, e quando fiz 25 anos ele começou a crescer, comprimindo a medula espinhal.
Os médicos dizem que é benigno, mas que o lugar é maligno: cada vez que cresce, perco movimentos. Hoje em dia, não sinto nada do umbigo para baixo. Se aumentar, posso parar de mexer os braços. E, se continuasse naquele ritmo, poderia ser ainda pior. Só que, desde que comecei a namorar a Bianca, por algum milagre, não cresceu mais. E já são quatro anos.
A gente se conheceu na minha casa: tínhamos um amigo em comum, e ele convidou a Bianca para ir lá. Sei que é meio clichê, mas realmente foi amor à primeira vista. De lá para cá, nunca mais nos desgrudamos. A gente mora juntos, na Zona Sul, com três gatinhas e duas cadelas. Se paro para pensar no antes e depois de conhecê-la, bah, olha, foi um marco na minha vida.
Quando eu ficava na cama do hospital, tinha muito tempo para pensar. E ali todas as certezas, todos os nossos ceticismos vão por água abaixo. É tipo aquele ateu que, quando o avião está caindo, pede 'pelo amor de Deus', sabe?
Quando tu sai da recuperação e começa a voltar para a vida, percebe o quanto a energia que as pessoas te trazem é importante. E, quando conheci a Bianca, a gente entrou na mesma sintonia, foi um negócio fantástico. Aquilo ali, aquela energia, aquela força, de alguma forma aquilo estagnou o crescimento do linfoma.
Os médicos não sabem explicar: não garantem que vai ficar assim para sempre, mas confirmam que parou de crescer.
Além da Bianca, tenho outras duas paixões: música e artes marciais. Antes de ser cadeirante, quase fui faixa-preta em taekwondo. Faltava fazer o último exame, mas não deu, me exigia muito. Depois de dois anos de namoro, a Bianca, simbolicamente, me deu a faixa preta. Fiquei muito emocionado.
Aí ela disse que ia me levar para fazer uma tatuagem, mas que eu só podia saber o que era quando estivesse pronta. Todo mundo me chamou de louco, né? Quando vi, era 'taekwondo' em coreano. Não sou de chorar, mas certas coisas são difíceis de explicar. De uma cirurgia por ano para um linfoma estagnado. Só posso atribuir isso à força do amor."
Veja o momento em que Bianca presenteou Leandro com a faixa preta:
Com Rossana Ruschel
A Cara da Rua é uma seção da coluna de Paulo Germano. Conhece um personagem que deveria estar aqui? Escreva para paulo.germano@zerohora.com.br e rossana.ruschel@zerohora.com.br.