Um vereador decide sobre quanto ganham professores e médicos do município. Decide se a cidade vai destinar mais verba para a Saúde, para a Educação, para a Segurança ou para a construção de um CTG dentro da Câmara. Decide sobre o valor do imposto que você paga. E sobre a organização de todo o espaço urbano – desde o tamanho dos prédios até as áreas para receber camelôs.
São decisões importantes, sem dúvida. Quanto deve ganhar esse profissional? Dois mil reais? Vinte mil?
Quanto deveria ganhar o doutor que resolve o problema de saúde do seu filho? Bem ou mal? E o advogado que livra você de um processo sério? E o engenheiro que ergue as paredes da sua casa? Se você pudesse pagar, contrataria o médico que ganha R$ 5 mil ou o que ganha R$ 200 mil? O advogado de R$ 1 milhão ou o rábula que aceita um salário mínimo?
Portanto, não: não acho alto o salário de R$ 14 mil dos vereadores de Porto Alegre. Não me parece um valor dissociado da responsabilidade que um vereador tem. Só que alguns vereadores, em vez de debater esse assunto às claras com a sociedade, em vez de publicar no site da Câmara o projeto, em vez de ir à imprensa explicar por que consideram justo receber um salário maior, acharam melhor fazer tudo na surdina.
Óbvio, estavam com vergonha: queriam emplacar o aumento salarial no momento mais inoportuno possível. No momento em que metade da população vai pagar um IPTU maior – e por causa de um projeto (justo, mas dolorido) aprovado pelos próprios vereadores. No momento em que os rodoviários protestam contra a extinção gradual da profissão de cobrador. No momento em que os servidores com salários mais baixos estão sem reajuste pela inflação. No momento em que o prefeito, agora, começa a falar em superávit após três anos de terror.
Seria um desrespeito, uma irresponsabilidade, uma chacota com quem ganha pouco aumentar neste momento um salário que, se não é altíssimo, também não é baixo. Para completar, seriam reajustados também os salários do prefeito, do vice-prefeito e dos secretários municipais. E, você sabe, como o salário do prefeito determina o teto salarial do município, todos os servidores mais bem remunerados da Capital passariam a ganhar 47% a mais. Ridículo.
Por ser ridículo, os vereadores felizmente recuaram e arquivaram o projeto. Mas, quando Porto Alegre sair da crise, essa é uma discussão que merece ser retomada: você quer um vereador ganhando bem? Quer ter a seu serviço o melhor profissional possível? Ou pode ser qualquer um, com qualquer remuneração?
Vamos debater, vamos conversar, vamos decidir. Isso é democracia.