Depois daquele triplo homicídio na Rua João Alfredo, em janeiro passado, a impressão era de que a violência daria uma trégua na Cidade Baixa. A Brigada Militar instituiu na região uma política de tolerância zero: qualquer comportamento considerado contraventor – desde parar o carro em fila dupla até caminhar no leito da rua – era inibido pelos PMs.
A estratégia se mostrou acertada: multidões que frequentavam a João Alfredo para fazer festa na rua – atazanando moradores, ouvindo música alta, consumindo drogas e urinando nas calçadas – enfim foram embora. Verdade que alguns grupos migraram para outros pontos do bairro, mas os crimes violentos pareciam ter arrefecido.
Em março, no entanto, um advogado foi morto às quatro da tarde durante um assalto na Lima e Silva. Na semana passada, dois jornalistas foram esfaqueados na saída de uma festa na João Alfredo. E, na madrugada desta segunda-feira (18), Nathana Stephany Marques Gay, 23 anos, foi assassinada com um tiro na cabeça na Rua da República.
Foram casos isolados? A segurança na Cidade Baixa piorou ou melhorou? Talvez as ocorrências de arruaça tenham diminuído, mas os assaltos tenham crescido? Não se sabe.
– Não se sabe porque, no Rio Grande do Sul, não há uma política de transparência em relação aos indicadores de segurança pública. Quais são os pontos mais críticos de cada bairro? Quais são os crimes mais recorrentes? Quantas abordagens a polícia faz em cada rua? – questiona o especialista e consultor em segurança Alberto Kopittke.
Nos países onde os dados são divulgados, segundo ele, os índices de criminalidade tendem sempre a cair. Porque, quando a sociedade está informada sobre as particularidades de cada região, ela pode apontar caminhos e fiscalizar o cumprimento de promessas. A imprensa, por sua vez, consegue comunicar à população a situação exata das diferentes zonas da cidade.
Quando a sociedade é informada sobre os indicadores de cada região, ela pode apontar caminhos e fiscalizar o cumprimento de promessas.
Não se trata de uma crítica à Brigada Militar – que, aliás, tem feito um bom trabalho mesmo com todas as limitações que conhecemos. Trata-se, sim, de uma ressalva às políticas públicas do próprio governo do Estado.
Em Nova York, metrópole citada com frequência como exemplo de combate ao crime, qualquer pessoa acessa os indicadores de segurança em um aplicativo de celular. Aqui, a Secretaria da Segurança Pública impôs sigilo de até cem anos para informações de indiscutível interesse público.
É compreensível, claro, que dados estratégicos sejam preservados para não atrapalhar o sucesso de operações policiais. Mas não é razoável que a população, após outro assassinato em um dos bairros mais movimentados da cidade, não possa sequer saber se a insegurança, ali, é um acaso ou uma rotina.