Maurílio Duarte deixou Porto Alegre por 20 dias e desligou o celular: temia que a Guarda Municipal cumprisse a promessa de autuá-lo. Mas, na manhã desta terça-feira (2), o pintor de letreiros pretende retomar o serviço que a prefeitura já havia apontado como ilegal: transformar pichações à margem do Arroio Dilúvio em "algo mais bonitinho".
– Já pintei mais de 20, ainda faltam umas 30. E faço tudo de graça. Eu gostei, o povo gostou, então vou terminar – afirma Maurílio, 52 anos.
Em fevereiro, ele chamou atenção ao reescrever com capricho, no guarda-corpo da ciclovia da Ipiranga, nomes de árvores que um pichador anônimo havia rabiscado. Ao lado de uma das inscrições, Maurílio deixou um telefone para contato – o que fez dele um alvo da Guarda Municipal.
– Infelizmente, não somos onipresentes para flagrar todos os delitos. Mas, uma vez que constatamos o fato e identificamos o autor, não podemos nos omitir – disse à época o comandante da Guarda, Roben Martins, sublinhando que "seria inconcebível autuar pichações feias e deixar passar desenhos que gostamos".
Mas, segundo Maurílio, "agora, já era". Ele argumenta que, enquanto fazia as pinturas, em fevereiro, o povo abanava, elogiava e pedia para tirar selfies. Com a repercussão do caso, pelo menos dois advogados teriam se oferecido para defendê-lo de graça:
– Estou fazendo uma coisa bonita, não pode ser errado.
Há 30 dias, a EPTC entrou em contato com Maurílio para marcar uma reunião entre ele e Marcelo Soletti, então presidente da estatal. A ideia, segundo a assessoria de imprensa, era apenas explicar o que diz a legislação, ouvir as sugestões do pintor e viabilizar uma alternativa legal para que os nomes das árvores fossem pintados. Maurílio aceitou o encontro, mas acabou não indo.
– Achei que eles iam me autuar. Tenho família em General Câmara, então preferi ficar lá um tempinho – conta ele, calculando uns 10 ou 15 dias para acabar o que começou.