
Como diz meu amigo Caue Fonseca, jornalista aqui da Zero, a pichação é covarde. Ela ataca o imóvel exposto ao público, aquele sem grades, sem vigilante, sem qualquer condição de defesa, mas poupa qualquer mansão milionária com um mastodonte guardando a porta.
A pichação ataca a vendinha da esquina, mas poupa o hipermercado. Ela ataca o coitado que não consegue pagar R$ 400 para pintar a parede de branco, mas poupa quem teria R$ 400 mil para pintar o bairro inteiro.
E há quem considere a pichação rebelde. Transgressora. Uma forma de dar voz a quem vive à margem da sociedade. Que besteira, por favor. A pichação é uma praga urbana que produz barbarismos como este: a completa degradação do antigo prédio da Faculdade de Medicina da UFRGS.

A histórica construção, na esquina da Sarmento Leite com a Luiz Englert, hoje abriga o Instituto de Ciências Básicas da Saúde, também da UFRGS, com a fachada quase que em estado de putrefação.
– Não é de hoje que o prédio sofre com vandalismo, mas nunca o vi tão podre. É uma das maiores joias da nossa arquitetura – diz o professor José Francisco Alves, doutor em História da Arte que enviou à coluna a foto no topo desta página. – Fico pensando nos médicos que se formaram ali e pariram esses pichadores.
Inaugurada em 1923, a construção em estilo eclético foi projetada por Theo Wiederspahn (1878-1952), um dos mais aclamados arquitetos que já atuaram no Estado. São dele também os projetos do Margs, do Hotel Majestic, do prédio dos Correios e do Edifício Ely – todos símbolos do nosso patrimônio arquitetônico.
Há quem diga que pichação é "arte urbana", e eu juro que tento entender, mas como pode uma arte destruir outra obra de arte? É o que ocorre na fachada do antigo prédio da Faculdade de Medicina. Uma beleza arruinada.
