Talvez até fosse aceitável em uma região mais afastada – onde o movimento é menor e a cidade palpita menos –, mas, no coração do parque mais tradicional do Estado, é inadmissível. A degradação do antigo Café do Lago, emblemático ponto de encontro da Redenção, atravessa o quinto verão seguido horrorizando quem passa por lá.
Construída em 1935, a pequena edificação em estilo art déco, tombada como patrimônio de Porto Alegre, começou a se desmanchar em 2014, quando o último permissionário decidiu se retirar. Desde lá, a prefeitura vem apontando datas para reativar o local – mas, sempre que os prazos se esgotam, a justificativa é de que a estratégia mudou.
Só no ano passado, houve previsão de lançar um edital em junho e, depois, em dezembro. Agora, o Executivo anuncia um novo plano, que, para sair do papel, precisa de apoio dos vereadores. A ideia em si é boa: o governo quer que a Câmara aprove um projeto que, na prática, permitiria ao município conceder à iniciativa privada a administração de espaços públicos.
No caso específico da Redenção, o grupo que vencesse a concorrência assumiria não só o Café do Lago, mas toda a área demarcada em vermelho na imagem abaixo. Seriam 700 metros quadrados de intervenções da empresa – que faturaria com lojas, bistrôs, pedalinhos e outros empreendimentos.
A área da Redenção que a prefeitura pretende conceder à iniciativa privada:
– No modelo antigo, de permissão de uso, a empresa assumia uma estrutura que já existe. Nesse modelo que queremos, de concessão, a empresa poderá instalar novas estruturas, como bares, além de revitalizar todo aquele quadrilátero – diz o secretário municipal do Meio Ambiente, Maurício Fernandes.
Segundo ele, portanto, a população teria muito mais do que o Café do Lago para desfrutar: todo o entorno do charmoso – e hoje abandonado – laguinho seria crivado de atrações. Não há dúvida de que o projeto representa um avanço (necessário) na relação com o setor privado; a questão é quanto tempo mais vai levar para alguma coisa ficar pronta.
Se antes bastava um edital para resgatar o Café do Lago, agora é preciso garantir a aprovação na Câmara e ainda enfrentar a burocracia inevitável de um novo formato de contratação. O secretário Fernandes acredita que “não deve demorar”, e tomara que ele esteja certo. O problema é que, por enquanto, não nos deram grandes motivos para acreditar.