David Ogilvy, o Pai da Propaganda, ensinou que comunicação não é o que a gente diz, mas o que as pessoas entendem. Confesso que essa frase tem me angustiado.
Na quarta-feira passada, a página do queijo Polenguinho no Facebook publicou uma imagem em referência à lendária capa do disco The Dark Side of the Moon, do Pink Floyd – também postou outra em homenagem ao Abbey Road, dos Beatles, portanto a ideia era brincar com álbuns históricos. A capa de Dark Side, não sei se vocês lembram, mostra um feixe de luz atingindo um prisma e depois se dividindo em várias cores.
Mas havia gente que não conhecia o disco.
E viu ali um arco-íris.
E também viu orgulho gay.
E acusou Polenguinho de "apoiar a ideologia de gênero".
Aí começou uma campanha de boicote contra o pobre do queijo, que estaria atacando "os valores da família" e divulgando "a nefasta agenda da esquerda", e era tanta gente vociferando e espumando de ódio, que Polenguinho precisou lançar uma nota esclarecendo que não fez alusão alguma ao movimento LGBT, e isso me deixou muito compadecido, porque conheço bem essa situação, meu caro Polenguinho: ninguém entende o que digo também.
Se David Ogilvy estava certo – e é provável que estivesse, afinal ele era David Ogilvy –, e se comunicação não é o que a gente diz, mas sim o que as pessoas entendem, então que bela porcaria de comunicadores somos nós, Polenguinho.
Eu aqui, se escrevo que detesto o Bolsonaro, as pessoas entendem que amo Lula. Se escrevo que detesto a Dilma, as pessoas entendem que amo Aécio. Se escrevo que a arte deve ser livre, entendem que apoio a pedofilia e, se escrevo que nossos presídios são desumanos, entendem que defendo bandido.
Só que eu não gosto do Lula, nem do Aécio, nem de pedofilia, nem de bandido. Esses dias, escrevi que o pedido de impeachment contra Marchezan era ridículo, mas entenderam que eu estava defendendo interesses do meu patrão. Só que também fui contra o impeachment de Dilma, aí entenderam que eu estava defendendo interesses do meu partido. O problema é que não tenho partido e não lembro da última vez que falei com meu patrão.
Talvez, Polenguinho, seja hora de reconhecer que não damos para a coisa. Porque, além de fazermos as pessoas entenderem errado, elas sempre entendem algo que odeiam. Cheguei a pensar que houvesse no Brasil uma espécie de cultura do ódio, uma intolerância sem precedentes, uma burrice, uma estupidez, uma imbecilidade endêmica, mas não, não mesmo, nada disso. David Ogilvy estava certo.
Se ninguém entende o que digo, o incompetente sou eu. Mas que fique bem claro, Polenguinho: eu te entendo.