Muito vacilei até escrever o meu primeiro hahahaha. Não que seja contra as onomatopeias. Emprego-as, de vez em quando. Por exemplo: uma vez contei sobre o chute do meu amigo Edu Brites. Não era um chute, era um pataço. Pois, num jogo lá no Alim Pedro, o Edu pegou uma bola de sem-pulo na porta da grande área, e pegou bem no peito do pé direito, que era o mais forte, era uma bazuca. A bola saiu incandescente, num zumbido de inseto grande, z-zzzz-ZZZZZZZ, e, CATABUMBA!, explodiu no travessão. Naquele tempo, as traves eram de madeira, quadradinhas, da espessura de um tijolo. Aquele travessão robusto, atingido pelo disparo do Edu, primeiro fez cr, depois crrrr, em seguida crec e finalmente CREC!, quebrando-se ao meio.
Quer dizer: as onomatopeias têm o seu valor, mas, como disse, só de vez em quando. Acontece que a comunicação pelas redes sociais é quase que exclusivamente onomatopeica. As pessoas usam aqueles degradantes emojis. Ou então hieróglifos como:
(:
Ou:
;0)
Ou ainda:
-*))
Por que elas fazem isso? Eu odeio isso.
Você está triste? Melancólico? Aborrecido? Ria. Simplesmente ria. O ato físico de rir faz bem. Se exercitado, deixa de ser apenas físico, torna-se espiritual.
Um amigo meu, certa feita, compôs uma bem-pensada declaração de afeto a uma moça. Era um texto elaborado, revisado e pulsante de sentimento. Tinha até algum valor poético. Enviou-o por e-mail ou coisa que o valha. Ela respondeu assim:
**
Q
O que pode significar um troço desses, senão desprezo e insensibilidade? Ela não teve nem sequer paciência de dispensá-lo.
Por essa razão, agasta-me um pouco quando mando uma mensagem e a pessoa retruca:
rsrsrsrsrs
Parece-me Rio Grande do Sul, Rio Grande do Sul, Rio Grande do Sul, Rio Grande do Sul.
Pior é o nefasto:
KKK
Outro dia, alguém me mandou um KKK, o Bernardo viu, arregalou os olhos e gritou:
– Teu amigo é um racista!
Ele pensou que se tratava de alguém da Ku Klux Klan. Não desmenti. Que o desgranido fique com imagem de racista, ele e seu KKK.
Também fico chateado quando envio uma mensagem cheia de graça e a pessoa responde:
hehe
Ora, hehe é uma risadinha mole, não mais do que um sorriso condescendente. Não gostou da minha piada, pra vir com um hehe? O que tem de errado com a minha piada? Eu a tomei do Neto Fagundes, o campeão da piada!
Então, tentei evitar as onomatopeias ao me comunicar no mundo virtual. Mas as pessoas vivem mandando coisas espirituosas, vídeos cômicos, frases de efeito, trocadilhos, fotos divertidas. As pessoas são muito criativas na internet. Aí, no começo, eu respondia:
“Muito engraçado!”.
Ou:
“Estou gargalhando, aqui”.
Ou:
“É uma tremenda diversão, meu amigo”.
Porém, percebi que não estava sendo compreendido pelos meus interlocutores. Alguns simplesmente questionavam:
“Hã?”.
Foi quando aderi ao hahahaha. E é assim que chego ao cerne do que queria dizer: sobre os efeitos terapêuticos do riso. Você está triste? Melancólico? Aborrecido? Ria. Simplesmente ria. O ato físico de rir faz bem. Se exercitado, deixa de ser apenas físico, torna-se espiritual, transforma-se de esgar muscular em autêntica alegria da alma. Aí, de repente, sem notar, você está de espírito leve. Está feliz.
Rir por rir é bom. Mesmo que seja por escrito. Tenho experimentado isso. Se escrevo algo interessante no mundo virtual e a pessoa responde hahaha, assim, modestamente, só três has, fico satisfeito, mas meio desconfiado. Se ela chega aos quatro, hahahaha, sinto-me contente. Agora, quando ela tem o cuidado de acionar o caps lock e se despetala inteira em um HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA, aí, sim, respiro fundo e penso que a vida é bela. Em retribuição, sempre brindo as boas piadas com pelo menos quatro has. E ultimamente me aprimorei, gargalho como uma socialite: HSHUAHASHUAHASHUAHA! Tudo para fazer os amigos felizes, neste tempo tão sério.