Vai dar a lógica na Nicarágua. Uma lógica familiar. O presidente Daniel Ortega avança para obter a reeleição apesar das críticas de nepotismo e de uma alegada grande abstenção por parte da oposição, que não reconhece o resultado da votação. De acordo com a apuração de 66,3% das urnas divulgada pelo Conselho Supremo Eleitoral (CSE), o líder sandinista aparece com 72,1% dos votos, contra 14,2% para o candidato de direita do Partido Liberal Constitucionalista (PLC), Maximino Rodríguez. O presidente do CSE, Roberto Rivas, agradeceu o "alto grau de participação e civismo" da população na eleição, que calculou em 65,3%. A oposição, no entanto, afirma que a abstenção chegou a 70%.
Após a divulgação do resultado preliminar, simpatizantes de Ortega e de sua esposa Rosario Murillo, que será vice-presidente, comemoraram na Praça das Vitórias, zona oeste de Manágua.
Ortega governou a Nicarágua entre 1979 e 1990, durante a revolução sandinista, e depois a partir de 2007. Ou seja, é o seu quarto mandato, agora com a mulher.
Mas a oposição considerou que a eleição foi marcada por uma abstenção em massa, mesmo em locais onde a influência do partido de Ortega, a Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), é tradicional.
- É evidente em todo o país que o abstencionismo foi grande. Calculamos de 70% a 80% de abstenção - disse a líder da opositora Frente Ampla pela Democracia (FAD), Violeta Granera. - Não reconhecemos os resultados desta farsa e, com a força de vontade manifestada pelo povo da Nicarágua, a declaramos nulas.
Na eleição legislativa, a FSLN aparece com 66,4% dos votos. O PLC tem 14,7%.
O dia de votação foi considerado tranquilo, mas as organizações de defesa dos direitos humanos e a imprensa citaram casos de violência, não confirmados a princípio pelas autoridades. O Centro Nicaraguense dos Direitos Humanos (CENIDH) informou as mortes de três simpatizantes do Partido Liberal Independente (PLI) em Cidade Antiga, perto da fronteira com Honduras, em um suposto confronto com militares. No município de Nova Guiné, ao leste de Manágua, um centro de votação foi incendiado, de acordo com a imprensa.
Ortega, que completará 71 anos em 11 de novembro, governará em seu terceiro mandato seguido (quarto, no total) ao lado da esposa e braço-direito, Rosario Murillo, que será vice-presidente. Militante sandinista desde a década de 1970 e mãe de 10 filhos, dois adotados, esta excêntrica poetisa de 65 anos, conhecida por seu estilo autoritário, é adorada pelos simpatizantes de Ortega e apelidada de "bruxa" pelos opositores. A formação da parceria é vista como o começo de uma dinastia e severamente criticada por oposicionistas e dissidentes.
A oposição, que qualifica as eleições como uma "farsa", busca impedir que Ortega, que controla todo o aparato estatal, instaure uma dinastia no país similar à da família Somoza, que governou a Nicarágua entre 1934 e 1979.
Aqueles que eram conhecidos como "muchachos", sob a bandeira da Frente Sandinista de Libertação Nacional, depuseram em 1980 a ditadura de Anastasio Somoza Debayle, último herdeiro da dinastia que infelicitou o país desde 1936. Estaria agora surgindo uma nova dinastia, promovida pelos "muchachos"?
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Os nicaraguenses compareceram às urnas para escolher o presidente e o vice-presidente, além de 90 deputados da Assembleia Nacional e outros 20 do Parlamento Centro-Americano.
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Nos últimos 10 anos, Ortega acumulou um enorme poder político e econômico graças à condução de seu partido, uma aliança com o setor empresarial e o apoio da Venezuela. Conforme dados oficiais, entre 2007 e o primeiro semestre de 2016 a Nicarágua recebeu quase US$ 4,8 bilhões em empréstimos generosos e investimentos da Venezuela geridos fora do orçamento e sem fiscalização.
A maior parte deles foi investida em projetos de energia, desenvolvimento de comércio, grupos empresariais, agricultura, construção de casas e programas sociais que permitiram reduzir a pobreza de 42,5% a 29,6% entre 2009 e 2014.
Mas a crise política e os baixos preços do petróleo afetaram os fluxos de cooperação e o comércio com a Venezuela, que até 2015 era o segundo sócio em importância da Nicarágua, depois dos Estados Unidos. E outro problema gravíssimo: a Nicarágua é um dos países mais pobres da região. A renda per capita é de magros US$ 5 (R$ 16) por dia. Fugir do país em busca de oportunidade é a escolha de 30 mil nicaraguenses ao ano no momento. No total, calcula-se que 700 mil pessoas migraram - ou 11% da população.