Esta história é impressionante. Um hacker colombiano assegura ter invadido computadores, e-mails e contas nas redes sociais de diversos candidatos à presidência enquanto trabalhava em campanhas eleitorais em oito países da América Latina. Em especial, no México, na Nicarágua, no Panamá, na Colômbia e na Venezuela. Andrés Sepúlveda cumpre pena de 10 anos de prisão em seu país por formação de quadrilha, espionagem, violação de dados pessoais, acesso eletrônico ilegal e uso de software danoso. A condenação refere-se à espionagem que ajudou a fazer contra o atual presidente colombiano, Juan Manuel Santos, e o processo de paz entre o governo e as Farc em 2014, quando o mandatário se reelegeu. Ele disse que agia pela campanha de Óscar Iván Zuluaga, ligado ao ex-presidente Álvaro Uribe. Para tentar tirar votos de Santos, disseminou, por meio de perfis falsos, o boato de que as Farc cometeriam crimes depois que estabelecesse acordo de paz com o governo colombiano.
Foi o último trabalho da carreira de Sepúlveda em eleições. Em entrevista à revista americana "Bloomberg Businessweek", ele disse ter influenciado eleições em pelo menos sete países. A estratégia incluía grampos telefônicos, invasão em servidores de campanha, contas de e-mail e redes sociais de adversários, e criação de perfis falsos para disseminar boatos e notícias que difamassem os rivais. Na maior parte dos casos, ele trabalhou com a equipe do colombiano Juan José Rendón, marqueteiro de campanhas em diversos países latino-americanos. Rendón nega qualquer relação com Sepúlveda.
De acordo com o hacker, o caso mais grave ocorreu na eleição presidencial do México, em 2012. Na época, ele trabalhou para o comando de campanha do vencedor do pleito, Enrique Peña Nieto, candidato pelo PRI. Conforme Sepúlveda, ele captou os discursos dos adversários de Peña Nieto, o esquerdista Andrés Manuel López Obrador e a governista Josefina Vázquez Mota (PAN). Detalhe: isso foi feito no momento em que eles escreviam.
Os candidatos também tinham seus telefones interceptados. Tudo graças a equipamentos comprados pela campanha do atual presidente mexicano, incluindo um software russo de US$ 50 mil (R$ 180 mil).
Em uma das ofensivas, sua equipe usou 30 mil contas no Twitter para tornar emplacar a proposta de combate às drogas de Peña Nieto. A equipe do atual presidente negou qualquer relação dele com o hacker.
Ainda no México, o hacker conta que criou perfis falsos de homens gays que apoiavam um candidato regional católico e programou computadores para ligarem aos eleitores às 3h da manhã com mensagens de um adversário político.
Embora cobrasse um mínimo de US$ 12 mil (R$ 43,2 mil) por trabalho, Sepúlveda afirmou agir por convicção. Quando criança, sua família foi ameaçada reiteradamente por membros das Farc e do Exército de Libertação Nacional (ELN). Isso o teria feito se tornar aliado ferrenho de Álvaro Uribe, a ponto de abandonar Juan José Rendón quando este resolveu chefiar a campanha de Santos em 2014. Na época, o presidente colombiano havia rompido com seu antecessor - os dois hoje chegaram ao ponto de ser desafetos.
Uma das suas ações foi a invasão do e-mail do então presidente da Assembleia Nacional Legislativa da Venezuela, Diosdado Cabello, em 2012. No ano seguinte, invadiu o Twitter do atual presidente, Nicolás Maduro, e publicou denúncias de fraude eleitoral. Na época, o mandatário derrubou a internet venezuelana por 20 minutos devido a "invasões conspiratórias do exterior".
O hacker fazia trabalhos para partidos de centro-direita e direita, empenhando-se especialmente contra candidatos e líderes "bolivarianos", como o venezuelano Hugo Chávez e o nicaraguense Daniel Ortega. Hoje, ele diz que fez tudo por "convicção" e que não se arrepende de nada.