Você pode não acreditar, mas este cronista que te convida à leitura de textos leves nas terças-feiras é capaz de fazer uma mágica. Um truque, na verdade, mas que até impressiona os observadores quando tudo sai certo. Nada de muito espetacular: minha magia consiste em fazer com que bolinhas de papel atravessem o tampo maciço de uma mesa e apareçam milagrosamente embaixo de um chapéu.
Aprendi com Mister N, meu irmão Newton, quando éramos crianças. Meu pai tinha um desses botecos de periferia e a meninada passava o dia brincando nas proximidades. Numa tarde, apareceu um sujeito fanfarrão. Reuniu a garotada em torno de uma mesa e avisou que faria uma mágica. Todos arregalaram os olhos. O homem colocou duas bolinhas de papel em cima da mesa, distantes cerca de 50cm uma da outra.
Com dois chapéus, cobriu cuidadosamente cada uma delas. Pegou uma terceira bolinha e colocou a mão embaixo da mesa, dizendo que a faria atravessar a madeira. Então levantou um dos chapéus e apareceram duas bolinhas sob ele. Espanto geral. Fez o mesmo com outra e apareceram três. Finalmente, pronunciou uma palavra mágica e as quatro bolinhas foram parar embaixo do mesmo chapéu.
Parecia mesmo magia. Menos para meu irmão, que fixou o olhar nas mãos do ilusionista e percebeu que ele levava uma bolinha entre os dedos cada vez que levantava o chapéu para mostrar o resultado da transferência. Logo todos aprendemos a manobra e a brincadeira perdeu a graça.
Resgatei essa historinha do baú da infância quando soube que em setembro estará se apresentando em Porto Alegre o célebre Mister M, o mágico mascarado que ficou famoso nos anos 1990 por revelar truques de seus colegas de ofício. Astro das noites de domingo no programa Fantástico, sempre apresentado pela voz tonitruante de Cid Moreira, Mister M conquistou tanto fãs quanto inimigos. Na época, um grupo de ilusionistas chegou a entrar com uma ação na Justiça para suspender seu quadro. Ele revelava a verdade, mas ficou com a desagradável pecha de delator.
Seu retorno aos palcos não poderia ser mais emblemático numa época em que tanta gente acata e repassa mentiras de redes sociais sem ao menos procurar a bolinha escondida entre os dedos dos mentirosos.