Li no último fim de semana que o cavalo Caramelo já engordou 40 quilos e está com as vacinas em dia.
Desde que foi resgatado do telhado em que se refugiou da enchente em maio último, protagonizando um dos episódios mais comoventes da tragédia climática que se abateu sobre o Rio Grande do Sul, o animal vem sendo cuidado com carinho e competência pelos profissionais do Hospital Veterinário da Ulbra, em Canoas. Mas continua sem dono.
Segundo os servidores da universidade, já apareceram 11 pessoas reivindicando sua propriedade, mas nenhuma provou ter direito à posse do animal. Tudo indica que são oportunistas querendo pegar carona na fama do bicho que virou celebridade nacional.
Mesmo que algum desses gaiatos fosse mesmo o proprietário, deveria ser responsabilizado pelos maus tratos visíveis nos ferimentos constatados pelos veterinários, possivelmente decorrentes do trabalho forçado em varais de carroça. Além disso, o dono também pode ser indiciado pelo abandono do animal no momento de risco.
Pelo que se imagina, pois ninguém sabe ao certo, o cavalo subiu sozinho naquele telhado em que foi flagrado pela câmera do cinegrafista do Robocop.
A propósito, sempre é bom lembrar que foi o jornalismo profissional que ajudou a salvar o pobre animal, enquanto boateiros semeavam pânico nas redes sociais com imagens e vídeos falsos de corpos humanos boiando nas águas invasoras.
Os bombeiros paulistas e os soldados do Exército e da Brigada Militar merecem reconhecimento pelo resgate, mas foi a visibilidade dada pela reportagem que mobilizou autoridades e comoveu a população.
Porém, o que mais importa agora é o presente e o futuro do cavalo que virou símbolo de coragem e resistência do povo gaúcho. Sem desconsiderar a prioridade para as pessoas que ainda estão desabrigadas, penso que Caramelo deveria ser tombado como um patrimônio cultural do Estado, assim como ocorre com prédios, monumentos e obras de arte.
Sei que muita gente ilustre já se propôs a adotá-lo, com garantia de casa, comida e arreios lavados, mas o ideal – agora que ele está bonito e saudável – seria colocá-lo num abrigo oficial de equinos, com conforto, proteção e boas pastagens, onde ele possa ser visto pelo público sem ser importunado por espertalhões.