Wandinha é um Harry Potter de trancinhas, mas com sangue nos belos olhos negros da atriz Jenna Ortega. Sua varinha mágica, para transitar incólume entre monstros e assassinos nos oito capítulos da série da Netflix, é uma inteligência superior. A apatia e o sarcasmo são invólucros para o medo da solidão, que vai se revelando ao longo da aventura na escola Nunca Mais – para jovens e adolescentes desajustados com poderes especiais.
Entre excluídos, aberrações e monstros, a menina da Família Addams constrói um caminho que leva – vejam só! – à amizade. Ela faz o possível para não ter amigos. Abraços, nem pensar. O distanciamento físico que mantém dos outros alunos escancara a sua estratégia de autodefesa. Como já advertiu o Pequeno Príncipe, tu te tornas responsável por aquilo que cativas. Wandinha é cativante, mas não admite essa responsabilidade.
Não sou propriamente um fã de séries televisivas, mas quando comecei a ver Wandinha não deu para parar mais. Tem muita fantasia, é verdade, mas também aborda temas relevantes da vida de todos nós, como o relacionamento entre pais (e mães) e filhos, e a sempre desafiadora arte de fazer amigos.
O nome da escola foi tirado de um dos mais famosos contos de Edgar Allan Poe, O Corvo, publicado em 1945. O escritor norte-americano, aliás, é um ícone da escola, que inclusive mantém uma competição esportiva com o seu nome, a Copa Poe.
O cineasta Tim Burton, que comanda o espetáculo, apaixonou-se por Wandinha logo que conheceu o roteiro do filme, principalmente porque a filha de Mortícia e Gomez, os patriarcas da Família Addams, tem uma personalidade semelhante à do próprio diretor – especialista em filmes tétricos e em coisas sombrias ou mórbidas.
Depois de Wandinha, a maior atração da série é a Mãozinha, o membro amputado da família que tem vida própria e interfere nas ações dos personagens. De tudo o que ela faz, o que mais gostei foi vê-la datilografando numa máquina de escrever que Wandinha utiliza para registrar a sua história. Digita melhor do que a maioria dos atuais usuários de telefone celular.
Mais não conto, para não tirar a expectativa de quem ainda vai se matricular na escola Nunca Mais para ser colega de Wandinha. Só posso dizer que a série é imperdível. De minha parte, confesso que me apaixonei pela menina e por sua personalidade inflexível. Ela me cativou – e, para seu alívio, não terá que assumir qualquer responsabilidade por isso, a não ser a que dedica de forma coletiva a seus fãs.