Uma boa festa tem história. O inspirado slogan da 68ª Feira do Livro de Porto Alegre, que se encerra neste feriado da Proclamação da República, também pode ser levado ao plural. Uma excelente festa, que foi essa feira dos 250 anos da Capital, tem histórias. Conto aqui algumas que tive a oportunidade de testemunhar.
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Fui o primeiro da fila na sessão de autógrafos do livro Escreva Direito, um guia elucidativo de dúvidas gramaticais escrito pelo professor Paulo Flávio Ledur e destinado principalmente a profissionais da área jurídica. O virginiano aqui compareceu na hora exata e estranhou a ausência do autor. Meu colega de jornalismo Luciano Kloeckner, que estava logo atrás, apressou-se em me informar:
– É que ele está numa oficina.
Quando o mestre chegou, apressado e desculpando-se pelo atraso, brinquei:
– Estavas numa oficina? Consertando o quê?
Sem se perturbar nem perder a elegância, ele respondeu de bate-pronto:
– Palavras... frases...
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Auditório Barbosa Lessa, plateia concentrada nos relatos do jornalista Rafael Guimarães e do cartunista Edgar Vasques sobre a versão em quadrinhos do premiado Tragédia da Rua da Praia. Lá pelas tantas, aberto o espaço para perguntas, um dos assistentes pegou o microfone e avisou:
– Gostaria de fazer uma pergunta sobre ideologia de gênero.
Os dois palestrantes se entreolharam, imaginando que viria um desses questionamentos com potencial para deflagrar mais uma guerra civil no país da polarização política. Mas o homem queria saber apenas de Rafael se seus livros eram romances históricos ou ficção. Aliviado, Vasques comentou:
– Rafael, é sobre ideologia de gênero literário.
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Também estive no relançamento do livro Poa – Pessoas, Olhares, Amores –, dos jornalistas Bruna Vargas, Caue Fonseca, Jéssica Weber e Marcelo Gonzatto, todos ex-colegas de ZH. Na ocasião, Jéssica lembrou que atuou como obituarista (redator encarregado do obituário no jornal) no início da sua carreira e que nunca esqueceu um comentário feito por mim, na sala dos editorialistas:
– Toda vez que a Jéssica entra na nossa sala, um velho jornalista morre.
Como éramos os decanos da Redação, era lógico que a jovem estagiária viesse nos consultar sobre o assunto. Mas minha frase foi um simples plágio do livro Peter Pan, de James Matthew Barrie: “Toda vez que uma criança diz que não acredita em fadas, uma pequena fada cai morta em algum lugar”.
Vivam as fadas e os jornalistas! Viva a Feira do Livro!