Este texto faz parte da cobertura da Copa do Mundo. A seção 'A Copa da minha vida' é publicada diariamente no caderno digital sobre o Mundial do Catar.
Acompanhei presencialmente quatro Copas do Mundo. Perdemos todas. Digo "perdemos" porque a Seleção Brasileira de futebol não é composta apenas por 11 jogadores, seus reservas, um treinador e os demais integrantes da comissão técnica. A Seleção é o país. Numa competição mundial do esporte mais apaixonante do planeta, é hipocrisia falar em neutralidade.
Estive na Argentina em 1978, na Espanha em 1982, na França em 1998 e vi os jogos de Porto Alegre na segunda Copa brasileira, em 2014. Dessas, a mais marcante foi, sem dúvida, a que disputamos em Sevilha e Barcelona, cinco jogos, quatro vitórias e aquela derrota dolorida que ficou conhecida como Tragédia do Sarriá. O time treinado por Telê Santana e formado por craques como Zico, Falcão, Sócrates e Júnior encantou o mundo com atuações verdadeiramente artísticas, mas foi eliminado pela Itália na segunda fase da competição.
Não foi tragédia, como mais tarde veríamos no 7 a 1 do Mineirão. Foi uma fatalidade com nome e sobrenome: Paolo Rossi. O centroavante baixinho da Itália, sem marcar gols nos quatro primeiros jogos daquele Mundial, acertou todas contra o Brasil. Com o chamado hat trick, três gols no mesmo jogo, mandou a Seleção Brasileira para casa.
A torcida brasileira chorou, mas não deixou de reconhecer e aplaudir o time que talvez tenha jogado o melhor futebol desde o tricampeonato de 1970. A Seleção de 82 jogava por música, principalmente uma denominada Povo Feliz, gravada pelo lateral Júnior e transformada em trilha sonora das belas atuações da equipe de Telê. O Canarinho voou nas quatro primeiras partidas: 2 a 1 na União Soviética com gols magistrais de Sócrates e Éder; 4 a 1 na Escócia, gols de Zico, Oscar, Éder e Falcão; 4 a 0 na Nova Zelândia, dois de Zico, Falcão e Serginho; e 3 a 1 na Argentina de Maradona, com Zico, Serginho e Júnior marcando.
A Seleção de 82 conjugou talento e eficiência. Jogou um futebol coletivo, com toques refinados e sempre na direção do gol de seus atarantados adversários. Não merecia perder, como reconheceram os torcedores espanhóis que estenderam uma faixa na frente da concentração brasileira, depois da eliminação: "Brasil, nem sempre ganha o melhor".
Nem sempre ganha, é verdade. Mas sempre deixa uma saudade. Danada. Eu estava lá e garanto: nem mesmo nas conquistas seguintes fomos representados por uma equipe tão qualificada como aquela. O Brasil de 82 não trouxe a taça, mas devolveu a magia ao futebol.