Brocardos, brocardos... Quando alguém lembra que o peixe morre pela boca dificilmente está falando de pescaria. Também poderia estar dizendo — com o auxílio de outro provérbio popular — que em boca fechada não entra mosca. As duas expressões querem dizer a mesma coisa: nascemos com dois ouvidos e uma só boca, ouça mais e fale menos para não se incomodar.
Em tempos digitais, cabe acrescentar mais uma advertência: controle os dedos e os cliques, pois tudo que disser, digitar ou retransmitir poderá ser usado contra você. Mais sinteticamente ainda: cuidado que vaza.
Os juízes de todas as instâncias gostam de repetir uma antiga máxima do direito romano: o que não está nos autos não está no mundo. Ou seja: para que alguém seja condenado, é preciso que as provas do crime estejam no processo. Pois a comunicação instantânea inverteu esta máxima: o que vai para a web vai para o mundo. Quem passa mensagem para um amigo, por mais amigo que seja, deve ter consciência de que está se expondo aos olhos da multidão.
Não que os amigos sejam traíras, como se diz no futebol, que é onde busquei inspiração para este comentário depois do vazamento do áudio do preparador físico do Internacional. Nunca se esqueça de que o seu melhor amigo também tem um melhor amigo e pode não ser você. Nem sempre há maldade na disseminação de um comentário indiscreto. Às vezes, nesta relação de confiança entre pessoas que se amam e se respeitam, ele cai na caixa de alguém que sequer conhece o primeiro autor.
Também não se pode descartar a maldade, evidentemente, ainda mais quando existe paixão envolvida — o que é corriqueiro no futebol. No fim das contas, quem sai no prejuízo é o ingênuo que abriu demais a boca ou acreditou que estava falando somente com uma pessoa. Nas chamadas redes sociais, não existe tête-à-tête — que é a expressão francesa consagrada para nominar uma conversa particular entre duas pessoas.
A rede é o mundo. E o mundo, como na sentença jurídica, passa a ser a verdade. Palavra dita e flecha lançada jamais voltam atrás, diz outro brocardo. Pior ainda quando a palavra vira flecha.