Os jornais são livros de História escritos no ritmo dos acontecimentos – talvez sem o distanciamento necessário para uma visão mais ponderada, mas com o sabor e a emoção da vida real. Nas últimas semanas, consultando pela internet a Hemeroteca Digital Brasileira da Fundação Biblioteca Nacional, deliciei-me lendo nos mais antigos periódicos brasileiros os relatos sobre nosso primeiro 7 de Setembro, aquele de 1822.
Claro que a imprensa da época não cobria os fatos como se faz hoje, com instantaneidade, técnica jornalística e plena liberdade de expressão. O grito do Ipiranga, romanceado por alguns historiadores e contestado por outros, não foi noticiado nas edições de 8 de setembro, até mesmo porque os jornais existentes não eram diários.
Mas a Gazeta do Rio de Janeiro do dia 26 de setembro de 1822 registra exemplarmente a ruptura de Dom Pedro I com Portugal, publicando a troca de correspondência entre o príncipe e seu pai, Dom João VI. Numa breve carta de dois parágrafos, o rei pede ao filho que cumpra os decretos e as ordens das Cortes, acrescentando um conselho paterno: “Quando escreveres, lembra-te que és um príncipe e que os teus escritos são vistos por todo o mundo, e que deves ter cautela não só no que dizes, mas também no modo de te explicares”.
Mexeu com fogo. Dom Pedro lacrou um textão digno das atuais redes sociais, no qual afirma: “Digo, tomando a Deus por testemunha e ao mundo inteiro, que, como príncipe regente do Brasil e seu Defensor Perpétuo, hei por bem declarar todos os decretos pretéritos dessas facciosas, horrorosas, maquiavélicas, desorganizadoras, hediondas e pestíferas Cortes, que ainda não mandei executar, e todos os mais, nulos, írritos e inexequíveis”.
Esse debate saiu no jornal oficial, mas o periódico de oposição Correio Braziliense, editado no exílio pelo gaúcho Hipólito José da Costa, andava no mesmo tom. Na edição de novembro daquele ano, dedicou 18 páginas para a íntegra do manifesto do príncipe regente aos governos e nações amigas, justificando a declaração de Independência:
"Queriam que os Brazileiros pagassem até o ar que respiravam, e a terra que pizavam", justificou o futuro imperador, com a grafia da época.
Quase 200 anos depois, ainda há quem queira.