Como gosta de escrever o talentoso Leandro Karnal no encerramento de seus textos instigantes, sempre há motivo para esperança. Agora mesmo, em meio a notícias deprimentes sobre as várias variantes do vírus e sobre gente pendurada em avião para fugir da opressão, encontro um registro promissor: as vendas de livros cresceram quase 50% no primeiro semestre deste ano em nosso país.
Será que li bem? Em tempos de fake news, é melhor conferir. Tem fonte? Tem, e parece ser confiável. Os números são do 7º Painel do Varejo de Livros no Brasil, recolhidos numa pesquisa conjunta da Nielsen BookScan e do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel), divulgados no site da Revista Veja. De acordo com o levantamento, só nos primeiros seis meses do ano, foram vendidos 28 milhões de livros no país.
Ops, talvez eu tenha que rever um certo pessimismo que venho manifestando nas entrelinhas de meus comentários sobre o velho hábito da leitura. Depois que as telinhas luminosas sequestraram a atenção das pessoas, parecia que os livros estavam condenados à extinção.
Sinceramente, já estava jogando a toalha. No mundo virtual, quase tudo é superficial: leitura rasa, mensagens curtas, palavras abreviadas, gírias, emoticons, emojis — comunicação instantânea, mas zero de profundidade, nada que exija reflexão e elaboração de ideias.
Pois agora me surge essa notícia sobre o crescimento significativo da venda de livros no Brasil. Como sou um cético de carteirinha até mesmo por dever de ofício, resolvo conferir na prática com minha livreira preferida. Ela confirma:
— No primeiro semestre, vendemos bem. As pessoas entravam na livraria e diziam que estavam aprendendo a ler na quarentena, pois já não aguentavam mais filmes e séries. Agora já parece haver uma certa retração.
Compreensível. Com o recrudescimento da crise econômica, aumento da inflação e do desemprego, é normal que os consumidores se acautelem. Mas nem tudo está perdido. Ainda há espaço para o prazer de ler. Mantenhamos acesa, portanto, a tal esperança.