Em recente entrevista, o escritor Pedro Bandeira, reconhecido autor de romances infantojuvenis, disse que prefere publicar livros sem ilustrações para permitir que o leitor forme suas próprias imagens dos personagens e das situações descritas.
— O leitor é outro autor — justificou, argumentando que o que se escreve nem sempre é o mesmo que a outra pessoa lê.
É o mesmo raciocínio do prêmio Nobel de literatura Mário Vargas Llosa para defender a prevalência da palavra sobre a imagem. O peruano acredita que os impressos sobreviverão ao avanço vertiginoso da tecnologia audiovisual porque o ser humano precisa exercitar a imaginação, precisa fabular, precisa construir suas próprias convicções.
Esse tema sempre me intriga. Certa vez, inclusive, cheguei a fazer uma pesquisa pessoal entre meus amigos jornalistas e escritores, perguntando-lhes por que escreviam. Uns disseram que escreviam por prazer, outros argumentaram que era só o que sabiam fazer — e o saudoso Moacyr Scliar, pelo que me lembro, deu a resposta que mais me tocou:
— Escrevo para tentar dar um sentido à vida.
Pois penso que nestes dias em que a vida parece fazer pouco sentido, por sua fragilidade diante de um inimigo invisível e pela epidemia paralela de insensatez que atinge parte da humanidade, a leitura de textos impressos mantém o poder de serenar espíritos e condicionar emoções.
Lê-se muito — e quase tão somente — nos meios digitais, sei disso. Mas tenho a impressão de que a leitura na telinha luminosa é mais imagem do que texto, até mesmo porque quase sempre está acompanhada de um efeito gráfico, de uma imagem bonita, de uma carinha engraçada.
Sobra pouco para a imaginação. Sobra pouco para o leitor ser o outro autor, ainda que ele simule essa condição repassando as mensagens recebidas.
Não estou pregando o ludismo digital, até mesmo porque seria uma batalha pedida. Mas creio ser possível um equilíbrio entre os múltiplos atrativos eletrônicos e o velho livro de papel — esse objeto mágico que permite a qualquer leitor escrever sua própria história com as tintas da imaginação.