Bem-vindo, inverno gaúcho. Não que eu seja grande apreciador do frio, mas este visual de paisagens brancas, gramados tingidos de geada, árvores encanecidas e serrações imprevistas me conforta o olhar e o coração – ambos exauridos pela visão da mamona assassina que nos atormenta.
Não aguento mais ver aquela representação gráfica do coronavírus nos telejornais. Para atenuar o nosso terror, o pessoal do departamento de arte caprichou no desenho, dando-lhe formato perfeitamente esférico e pequenos tentáculos coloridos. Não adiantou. Continua repulsivo.
Mil vezes esses flocos brancos das manhãs de julho, que chegam na madrugada e desaparecem com os primeiros raios de sol. Antes de se retirar, eles nos permitem captar imagens extravagantes de árvores vestidas de noiva e lagoas empedradas, que saltarão para as redes sociais, para os jornais e para o noticiário da tevê, de modo que o Brasil e o mundo se deliciem com a beleza rude do nosso Estado.
E nós, rio-grandenses, respirando o ar gelado na hora do mate solitário, recobramos a certeza de que haveremos de vencer mais esta ímpia e injusta guerra.