Vai passar. E, mesmo que não passe tão logo, as pessoas vão sair para as ruas porque não aguentam mais lavar a louça, pedalar em bicicleta ergométrica e acompanhar lives com imagens tremidas. Só que, antes de soltar a boiada — como diz aquele ministro caviloso, colega do contumelioso —, seria bom que as autoridades e os responsáveis por espaços públicos definissem protocolos para a nova aglomeração.
De minha parte, confesso que não sentirei muita diferença. Acho que já sofria de fobia social antes do confinamento, pois nunca fui muito de frequentar bares, participar de confrarias ou disputar espaço na plateia de espetáculos artísticos ou musicais. O último show que acompanhei ao vivo foi o da cantora francesa Zaz, no Araújo Vianna, três anos atrás. Estava lotado, mas nem me importei muito porque queria ver de perto aquela mulher de voz poderosa que de vez em quando canta de graça nas ruas de Paris. Sou fã da moça, mas isso não vem ao caso.
O que me move nesta reflexão é imaginar como será o desconfinamento nos locais públicos projetados para a aglomeração. Cinema, por exemplo. A verdade é que essas casas de espetáculo já vinham sendo pouco frequentadas, com exceção de alguns sucessos de bilheteria que podem ser contados nos dedos. Me intriga saber se, na reabertura, as pessoas terão que usar máscaras, por exemplo. Como comer pipoca de máscara? Terão que manter distância umas das outras? Serão orientadas a sair da sala de forma espaçada? As poltronas terão que ser higienizadas a cada sessão? Um Oscar para quem tiver respostas para todas essas perguntas.
Estádios de futebol. Estive em quatro Copas do Mundo, sempre em estádios lotados, com torcedores celebrando abraçados, comendo e bebendo à vontade, movimentando-se de um lugar para o outro. E aquelas torcidas nada organizadas, com pessoas que ficam subindo e descendo os degraus da arquibancada, empurrando-se mutuamente, gritando no ouvido do vizinho do lado? Como nós, torcedores, desconfinaremos para o futebol? Uma taça para quem souber com certeza o que ocorrerá.
Shows musicais. Aqui o desafio é maior ainda. Parece óbvio que os frequentadores, especialmente os jovens, jamais se consolarão com as lives artísticas, que já começam a enjoar. Como impedir que voltem a dançar em grupo, que se abracem e se beijem no meio da multidão, que invadam o palco para tocar no ídolo? Um ingresso de planetário para quem tiver a fórmula mágica.