Não sou de recomendar filmes e séries televisivas, até porque estou sempre atrasado em relação a estreias e novidades. Outro dia, almocei com uma amiga que já tinha visto todos os filmes favoritos do próximo Oscar, lê dois livros por semana e ainda viaja pelo mundo nas folgas de seu trabalho, que tem elevada carga horária. Que inveja! Me senti um alienado completo diante dela, mas conseguimos encontrar um tema comum para debater: Anne with an E.
A série canadense da menina tagarela é a melhor coisa que vi no mundo da Netflix. Vi não, ainda estou vendo. Acompanho os capítulos finais da segunda temporada, sem ignorar que a terceira – e última, segundo os produtores – já está concluída e à disposição do público.
O fã-clube da ruivinha é grande. Em novembro passado, tão logo a atriz principal publicou um texto de despedida confirmando o encerramento das filmagens, espectadores deflagraram uma campanha pela produção de mais temporadas – que reuniu mais de 4 milhões de tweets em uma semana. Anne, interpretada pela irlandesa Amybeth McNulty, é uma adolescente sardenta, de cabelos rubros, capaz de falar centenas de palavras por minuto – todas elas com sentido, profundidade e sensibilidade. A menina é um show completo.
Mas a série, baseada num livro escrito em 1908, tem muitas outras atrações.
Os demais atores também são excelentes, o cenário não poderia ser mais bonito e os temas abordados são extremamente atuais. Além da adoção, que é o ponto de partida, o filme coloca em debate identidade, preconceito, gênero, racismo, desigualdade social, feminismo, homossexualidade, bullying e várias outras questões comportamentais que suscitam dúvidas e controvérsias. E tudo isso sem apelar para clichês e moralismos.
Anne com um E merece a audiência que tem e a atenção de quem ainda não se ligou na série. Leva o meu Oscar particular, ainda que não esteja concorrendo ao prêmio da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. Isso que ainda não ingressei na terceira temporada, o que pretendo fazer nos próximos dias. Minha amiga cinéfila – evidentemente – já viu tudo. E está engajada no movimento dos que pedem a continuação.