Decididamente, o Papa não tem a paciência de Jó, personagem bíblico que passou à história do Cristianismo como exemplo supremo de aceitação e tolerância. Nenhum de nós, humanos, temos essa virtude imaculada. Que atire a primeira pedra no pontífice quem nunca teve o seu instante de exasperação. Claro que pouquíssimos habitantes deste planeta redondo têm a visibilidade do Papa, de quem sempre se espera uma conduta edificante. Só que não: às vezes, ele reage como os demais mortais. Não são muitos, porém, que reconhecem seus erros e pedem desculpas publicamente, como fez o líder católico.
O episódio se transformou na imagem mais comentada da passagem do ano, com múltiplas interpretações. Há quem simplesmente culpe a mulher que puxou a mão do Papa, como se ela fosse uma criminosa – e não uma fiel emocionada e ansiosa para tocar no representante maior de sua crença. Há quem aproveite para descarregar ódios represados de natureza ideológica, religiosa e psíquica contra o argentino – desconsiderando sua administração inovadora e corajosa no comando da Igreja.
Mas a interpretação preponderante, pelo que tenho visto, é de compreensão e até de certa simpatia com a indignação de Francisco. Foi um alívio para muita gente constatar que o Papa também se incomoda e também reage epidermicamente, como qualquer um de nós. O mau exemplo do Sumo Pontífice – como ele próprio definiu o tapinha na mão da tiete – acabou se transformando num espelho da humanidade que todos carregamos no nosso sangue quente.
Certo, somos isso mesmo: passionais, reativos, às vezes até intolerantes e agressivos. Mas também temos potencial para pedir desculpas e, principalmente, para exercitar a virtude do malfadado Jó.