Com a chegada de mais um treinador português para o futebol brasileiro, talvez seja a hora de todos prestarmos mais atenção no futebolês falado além-mar, que ainda gera certa confusão por aqui. Quando eles dizem que “o guarda-redes despiu o fato de treino no balneário e vestiu a camisola para entrar no relvado” não significa que o funcionário encarregado de cuidar do estádio resolveu fazer um piquenique de pijama, mas sim que o goleiro retirou o abrigo no vestiário e colocou a camiseta para entrar em campo.
A terminologia soa engraçada para nós, mas a verdade é que os treinadores de Portugal estão conquistando o respeito e os postos de trabalho nos principais centros futebolístico do mundo justamente porque levam a sério a formação profissional. Para ser técnico de futebol, lá, não basta ter sido atleta. É preciso estudar muito. Já começa que só pode obter a certificação nível 1, para trabalhar com as categorias de base, quem tem o Ensino Médio completo, além da experiência de pelo menos cinco anos na atividade.
Para alcançar as demais certificações, até o nível 4, que é o máximo, é necessário passar por uma verdadeira faculdade, com disciplinas teóricas, técnicas e táticas. Aqui ainda estamos engatinhando nessa cultura. Só recentemente o Brasil criou a CBF Academy, por exigência da Fifa e das Confederações continentais, pela qual alguns dos nossos renomados treinadores estão sendo obrigados a passar, ainda que com certa relutância.
Num mundo que se transforma todos os dias, estudar continuamente passou a ser indispensável para quem busca o sucesso profissional em qualquer área do conhecimento. Nesse contexto, o futebol é só mais um exemplo. Somos pentacampeões mundiais, é verdade, mas está cada vez mais evidente que a era romântica da sabedoria intuitiva chegou ao fim. Quem se julga gênio e não se atualiza fica para trás.
O Brasil antigo cantava e achava divertido o refrão de um samba de Haroldo Barbosa que dizia assim: “Isso não se aprende na escola”. Não vale mais. Nem para o futebol. Mas há pelo menos um indício de que essa terra ainda vai cumprir seu ideal: agora, os portugueses estão chegando porque são nossos convidados e porque aceitamos que eles têm algo a nos ensinar.