A perspectiva de dois Gre-Nais na decisão da Copa do Brasil na antevéspera da data Farroupilha inflama o orgulho gaúcho e já começa a provocar visível dor de cotovelo nos nossos vizinhos brasileiros. Preparem-se para as farpas, companheiros maragatos e chimangos! Um conhecido cronista esportivo do centro do país deles, em comentário irônico sobre nossa justificada tendência ao exagero, levantou a possibilidade de o governador Eduardo Leite pedir para a final ser jogada em Tóquio.
Bem capaz! Os japoneses que acompanhem pela televisão como esse pessoal da parte de cima do mapa que vive implicando com o nosso bairrismo. Queremos esses jogos aqui mesmo, para que o mundo inteiro olhe para nós e para que nossas façanhas, finalmente, sirvam de modelo a toda a Terra – assim com maiúscula, para não deixar dúvidas. Mais do que isso: vamos, agora oficialmente, substituir o Hino Nacional da cerimônia de abertura pelo Hino Rio-grandense, de preferência com aquela menção a gregos e romanos que ninguém canta, para que os europeus também saibam com quem estão falando.
Por conta da nossa compreensível imodéstia, já tivemos um Gre-Nal do Século, três décadas atrás, quando nossos maiores clubes se enfrentaram numa semifinal do Campeonato Brasileiro. Mas estamos em outro século e até em outro milênio, e este jogo – caso se confirmem as previsões – valerá o título de uma competição nacional. Será, sem dúvida, o Gre-Nal da História.
É verdade que, considerados os atuais titulares, poucos jogadores dos dois times saberão cantar o nosso hino. Apenas um atleta de cada equipe nasceu nos pagos – o porto-alegrense Edenilson e o alvoradense de nome afrancesado Jean Pyerre. Mas os demais (seis cariocas, quatro paulistas, dois argentinos, um uruguaio, um peruano, um mineiro, um mato-grossense, um cearense, um catarinense, um maranhense e um tocantinense) certamente já se agaucharam.
Brinco, claro. O Rio Grande tem orgulho de ser brasileiro, mas a verdade é que os forasteiros que por aqui se aquerenciam logo percebem que cultuamos um sentimento muito particular de altivez e independência, que influencia também o futebol. Como ensinou o grande Jayme Caetano Braun, "a pátria é minha família/ não há Brasil sem Rio Grande/ e nem tirano que mande/ na alma de um Farroupilha".