Na santa ignorância da minha infância provinciana, meteoros já cruzavam os céus do Rio Grande com alguma frequência. Não causavam tanto espanto como atualmente – e eram conhecidos por um nome menos pomposo, mas certamente mais encantador: estrelas cadentes. Ainda que os especialistas considerem uma raridade a frequência com que o fenômeno ocorreu na semana passada, lembro-me de ter visto, quando menino, episódios semelhantes a esses que vêm assombrando os gaúchos nos últimos dias, sem que fossem identificados como sinais apocalípticos ou coisas do gênero. O mais preocupante eram os adultos que gostavam de assustar as crianças alvoroçadas pela visão:
– Não aponta o dedo que te nasce uma verruga na ponta do nariz!
Nem dava tempo mesmo. A luz riscava a noite com extrema velocidade e logo desaparecia em algum lugar distante. Sem qualquer conhecimento de astronomia, imaginávamos que aquela estrela desgarrada talvez mergulhasse no mar ou se estatelasse (não poderia haver verbo mais adequado) lá para os lados da China ou do Japão, que, pela nossa precária geografia de então, eram os lugares mais próximos do fim do mundo.
Só muito mais tarde, acho que lá pelos últimos anos do curso ginasial (olhaí mais um atestado de antiguidade), é que aprendi que aquelas bolas de fogo cruzam pelo nosso planeta aos milhares todos os anos e somente umas poucas chegam ao solo terrestre antes de se desintegrar completamente. Sempre foram aparições fugazes. Quem via, via. Quem não via tinha que ficar olhando para o céu até doer o pescoço. Agora, porém, dificilmente escapam dos telescópios, das câmeras de vigilância e dos milhões de celulares existentes, sempre prontos para gravar imagens de tudo.
Talvez por isso, pelos registros em fotos e vídeos que estendem a duração do fenômeno, tenham virado notícia e despertado tanto a imaginação quanto a superstição de algumas pessoas que leram a notícia.
– Isso é um aviso, o fim está próximo – assegurou um internauta em tom messiânico, recomendando a seus semelhantes a leitura da Bíblia e o arrependimento dos pecados.
– É tudo mentira, os meteoros não ultrapassam a abóbada que nos protege – advertiu um terraplanista juramentado.
– O pior virá no dia 20, quando a Terra ingressará numa nuvem de metereoides e asteroides – sentenciou com certa empáfia científica outro profeta do caos.
Ora, não creio que seja para tanto.
Com minha jurássica experiência de observador das estrelas (ainda que os dinossauros tenham perdido essa batalha), arrisco-me a dizer que os meteoros não nos atingirão e nem nascerá verruga no nariz de ninguém que apontar o dedo para algum bólido mais visível. Só não ouso desfazer a ilusão dos crédulos bem-intencionados, que invariavelmente aproveitam o espetáculo cósmico para fazer algum pedido. Mantenho, inclusive, um desejo engatilhado para o próximo meteoro: que a luz efêmera faça com que mais gente volte os olhos para o céu e perceba a beleza das constelações de outono em nosso hemisfério.