Estamos na Semana da Imprensa, que homenageia o gaúcho Hipólito José da Costa e seu Correio Braziliense como símbolos da liberdade de expressão e da luta pela democracia. Para registrar a data, a Associação Riograndense de Imprensa e o Cinema Universitário da UFRGS estão promovendo na Sala Redenção sessões gratuitas de filmes sobre jornalismo, do clássico A Montanha dos Sete Abutres (apresentado na segunda-feira), seguido de O Mercado das Notícias (ontem) e dos oscarizados Primeira Página: por dentro do NYT (hoje), Spotlight: Segredos Revelados e The Post – A Guerra Secreta (amanhã e sexta).
O cinema tem sido implacável com o jornalismo. São raros os filmes em que os profissionais de imprensa chegam ao final da projeção sem protagonizar desvios éticos, poder demasiado ou submissão a forças econômicas e políticas. De vez em quando, porém, também aparecem como super-heróis, enfrentando destemidamente riscos e ameaças, seja em coberturas de guerras ou em investigações de escândalos.
Com quatro décadas de rodagem nessa atividade fascinante e desafiadora, posso assegurar que não somos nem mais nem menos heróis ou vilões do que quaisquer outros profissionais. Somos, apenas, prestadores de um serviço essencial para a sociedade, que é o de fornecer aos cidadãos as informações de que necessitam para serem livres e decidir o próprio destino. Nem sempre e nem todos fazemos bem o nosso trabalho, pois, como em qualquer área, também nessa existem pessoas boas e más, competentes e incompetentes. Mas, no geral, procuramos acertar e cumprir os preceitos éticos e morais do nosso ofício, pois sabemos que a própria sobrevivência do jornalismo depende de sua credibilidade e de sua utilidade para o público.
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Nesse sentido, inspirado pela tela grande, lanço ao debate sete abutres da era digital que espreitam o jornalismo. O primeiro e mais visível atende pelo nome de fake news, as notícias falsas geradas pelas facilidades tecnológicas e por interesses difusos, que acabam desacreditando também os profissionais comprometidos com a busca da verdade. Igualmente rapineiros são os governantes autoritários, que se valem prioritariamente (ou exclusivamente) das redes sociais para impor a seus governados uma comunicação blindada a questionamentos. O terceiro corvo é o garrote econômico que sufoca a imprensa profissional, decorrente da inexorável migração da audiência e da publicidade para os gigantes da mídia digital. A consequente queda de qualidade dos produtos jornalísticos oferecidos pelos veículos tradicionais é a quarta ave agourenta. Mais duas, filhotes da queda de receita: perda gradativa da independência editorial e desleixo com a disciplina da verificação. O sétimo abutre talvez seja o desencanto de muitos profissionais com os novos rumos da profissão.
Há outros, certamente. Esta análise é uma visão pessoal, que não pretende ser definitiva nem esgotar o tema.
Mas há também antídotos para o mau agouro, entre os quais a transparência e o comprometimento com o público, reafirmados nesta Semana da Imprensa.