Pelo latim do ministro Sérgio Moro, entrou no debate nacional a história da montanha que pariu um rato. A frase é atribuída ao poeta romano Horácio, mas sua popularidade deve-se a uma fábula do grego Esopo, O Parto da Montanha. Segundo o relato, a montanha próxima à cidade começou a emitir um barulho assustador, que despertou pavor na população:
– Vai explodir! – disse um.
– É um terremoto! – previu outro.
– É o fim do mundo! – gritou um terceiro, mais alarmista.
Mas o que pegou mesmo foi a fake news do sujeito que prognosticou o nascimento de um monstro devorador de pessoas. Foi um pânico geral. Uns fugiram para longe, outros esconderam-se em cavernas e a vida da cidade virou um caos. Até que a montanha tremeu, fez um barulhão jamais ouvido e rachou-se em duas. Do meio da poeira, contam os fabulistas, saiu um inofensivo ratinho, provocando alívio e risos da galera amedrontada.
Fábulas são narrativas curtas que transmitem uma lição de moral, tendo como personagens, quase sempre, animais que representam tipos e sentimentos humanos. O Parto da Montanha tem sido utilizada historicamente para ironizar bravatas, promessas e ameaças mirabolantes que culminam em resultados pífios. Em síntese, muito barulho por nada.
O maior poder das fábulas é exatamente a simplificação. São narrativas de fácil entendimento, que logo caem no gosto popular e passam a ser empregadas como reforço de convencimento. Quando alguém diz que “querem matar a galinha dos ovos de ouro” logo se entende que a ambição e a ganância levam à perdição. A expressão “uvas verdes” remete imediatamente a algo que desdenhamos por não termos habilidade para alcançar.
Ratos, galinhas, leões, raposas e outros animais desfilam pelas fábulas de Esopo, La Fontaine e do nosso Monteiro Lobato, que também trabalhou muito esse gênero de literatura. São textos marcantes e exemplares, que deixam inesquecíveis lições de vida. Porém, nem sempre a moral da história é edificante. Veja-se, por exemplo, O Lobo e o Cordeiro, que culmina com uma grande injustiça e com a derrota da razão para a brutalidade.
O mesmo pode valer para O Parto da Montanha. Transpondo para a realidade brasileira, é prudente não esperar que saia da nuvem de poeira um Mickey Mouse sorridente. Uma montanha que emite ruídos em nosso país merece mesmo atenção, pois não é incomum que dela resulte uma avalanche de lama tóxica.