Foi um movimento repleto de significados. Depois de marcar um dos seus gols na Copa do Mundo de Futebol Feminino, a atacante brasileira Marta ergueu a perna direita, equilibrando-se sobre a esquerda, agarrou o próprio pé e levou sua chuteira à altura dos lábios, para aplicar-lhe um beijo com o batom da marca da qual passou a ser embaixadora publicitária. A chuteira não tem patrocinador (ainda), mas leva o símbolo azul e rosa de uma campanha pela igualdade de gêneros. A Fifa, que promove a competição e tem mais poderes do que a ONU, torceu o nariz para a jogadora que premiou seis vezes como melhor do mundo, suspeitando que o gesto caracteriza o chamado marketing de emboscada, que é o aproveitamento da grande visibilidade de um evento internacional para escancarar o produto de uma marca não licenciada pela entidade.
Tudo é simbólico nesta disputa paralela, que se poderia chamar de copa do mundo da esperteza. Não há dúvida de que a empresa fabricante do batom, cujo maior apelo é a permanência por 16 horas nos lábios das usuárias sem perder o brilho, marcou um gol de placa ao contratar a principal atleta do esporte para expor seu produto no momento de grande audiência, driblando a vigilância dos organizadores da competição. Marta, aparentemente, também saiu no lucro, pois pegou o seu cachê, reforçou a luta pela equidade e deixou pouca margem para a Fifa penalizá-la.
Resta conferir qual será a reação da todo-poderosa federação. O lance está sendo examinado pelo VAR da área jurídica. Torço, pelo bem do futebol feminino e em respeito à inteligência de quem bolou a estratégia, que a Fifa tenha a mesma flexibilidade de Marta no seu beijo contorcionista e aceite o drible sem apelar.