Antes de qualquer coisa, uma confissão: jornalista adora um vazamento. Na verdade, quem gosta mesmo de saber o que autoridades e celebridades falam na intimidade de seus gabinetes é o público, que devora avidamente diálogos e declarações gravados inadvertidamente (ou digitados, depois que todos passamos a conversar pela ponta dos dedos). À imprensa cabe conferir a veracidade das informações e avaliar criteriosamente o seu interesse público, evitando, assim, cair em armadilhas e divulgar falsidades.
No mundo interconectado, ninguém mais precisa grampear ninguém para escutar o que se fala atrás da porta. Os próprios interlocutores deixam rastros e provas na maioria das vezes irrefutáveis. Veja-se, por exemplo, os atuais diálogos entre o juiz que virou ministro e seu procurador favorito. Ainda que ambos lancem suspeitas sobre a autenticidade das frases digitadas, em compreensível movimento de autodefesa, nenhum deles negou peremptoriamente aquela curiosa referência ao ministro Fux, escrita na língua de Donald Trump. Tudo bem, não é preciso ser muito criativo para plagiar o lema impresso nas notas de dólar americano, mas nem o próprio citado refutou o atestado de confiança passado pelos paladinos do combate à corrupção.
A citação bem-humorada virou meme na internet, mas, por sua originalidade e adequação ao referido diálogo, também não deixa de ser uma espécie de selo de legitimidade do vazamento. Parafraseando a paráfrase: “In hacker we trust”.
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Os chamados hackers, ou piratas cibernéticos se preferirmos a língua pátria, são os suspeitos da hora. Pelo que tenho lido nos últimos dias, o poder de espionagem dessas criaturas tecnológicas desafia todos os limites: entram nos nossos celulares e computadores quando bem entendem, assumem a nossa identidade e revelam os nossos segredos, sejamos nós autoridades superprotegidas ou cidadãos comuns.
Especialistas recomendam senhas criptografadas e outros recursos complicados como prevenção, mas reconhecem que ninguém está completamente imune a ataques. E a vítima mais visada parece ser exatamente o governo federal. Relatório divulgado pelo Centro de Tratamento e Resposta a Incidentes Cibernéticos de Governo, subordinado ao Gabinete de Segurança Institucional, aponta que apenas no ano passado foram reportadas mais de 20 mil ameaças à segurança digital de órgãos federais.
Nesse ambiente de bisbilhotagem generalizada, o que sobra para nós, desprevenidos cidadãos, que mal conhecemos os fundamentos da comunicação em grupos de mensagens e muitas vezes encontramos dificuldades para memorizar uma única e precária senha? Talvez a gente devesse voltar a se comunicar por carta, telegrama ou mesmo tambores e sinais de fumaça, nem que fosse apenas para dar um nó na cabeça desses intrometidos da era digital.
Como costuma aconselhar o ministro hackeado, pensem bem se é uma boa ideia...