Os jovens veganos da minha família esforçam-se por preparar o próprio alimento, policiando-se permanentemente para não comer nada que se tenha originado de sacrifício ou sofrimento de animais. Ainda não atingi tamanha evolução espiritual, mas admiro sinceramente a atitude e a determinação da garotada. De vez em quando, até os acompanho nas refeições em restaurantes especializados — negócio que prospera a olhos vistos nos dias atuais, pela crescente militância dos seguidores e, também, pela inegável qualidade dos alimentos servidos, que nada ficam a dever em sabor e nutrição à comida convencional.
Outro dia estive numa feira de alimentação vegana. Saí de lá impressionado com a variedade de produtos e, principalmente, com a convivência alegre e pacífica dos frequentadores. Para falar a verdade, cheguei a ouvir algumas críticas aos “carnistas” e me senti um pouco proscrito, como esses fumantes que não conseguem se livrar do vício funesto. Mas não me ofendi: entendo que os animais precisam mesmo de advogados combativos depois de tantos séculos de exploração.
— E quando eles precisam de remédio? — questionou-me um amigo carnívoro quando comentei o episódio, lembrando que muitos medicamentos são testados em animais, quando não extraídos dos próprios bichos.
Realmente, tem de tudo neste mundo. Recentemente, li a respeito de uma droga que está fazendo sucesso na China, por sua eficiência no tratamento de gastrite, úlceras, infecções respiratórias e outros males. Chama-se Kangfuxin, e resulta da trituração de baratas que são criadas em cativeiro numa fazenda na cidade de Xichang. Eca! Nem precisa ser vegano para repugnar isso, mas a verdade verdadeira é que não sabemos o que exatamente contém a maioria das substâncias que ingerimos, da alimentação à medicação.
Porém, um jovem vegano esclareceu com serenidade e sabedoria a dúvida do meu amigo. Ele apoia a restrição e até o boicote a produtos medicinais e cosméticos fabricados a partir do sofrimento de animais, prefere a homeopatia e a fitoterapia para o tratamento de suas doenças, mas lembra que o veganismo não defende o sacrifício pessoal. Além disso, um ativista vivo e saudável é sempre mais eficiente do que um mártir.
Concordo plenamente e não vejo qualquer hipocrisia neste posicionamento. Faço apenas uma observação: antes a gastrite do que o tal Kangfuxin.