Cientistas e religiosos acompanharam com a respiração suspensa a abertura do túmulo de Jesus Cristo, na semana passada, em Jerusalém. Observando o vídeo feito pela National Geographic Society, que está ajudando no patrocínio do projeto de restauração do Santo Sepulcro, percebe-se muita tensão entre os assistentes – supostamente pelo temor de que alguma ossada fosse encontrada sobre a pedra onde o corpo do crucificado teria sido depositado há
2 mil anos. Seria um achado histórico, mas também a destruição do principal dogma das religiões cristãs.
– Se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação e vã a nossa fé! – sentenciou o apóstolo Paulo para convencer discípulos que duvidavam da ressurreição.
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Eis a questão
Com a dúvida de Tomé, ou sem ela, milhares de pessoas visitam diariamente o local mais sagrado do cristianismo, e mesmo as descrentes costumam emocionar-se com a proximidade do cenário histórico. Estas irmãs siamesas não se entendem: a razão duvida, mas a emoção crê. Teria mesmo ressuscitado esse ser humano especialíssimo, que protagonizou a mais bela história de todos os tempos?
Confesso que tenho sérias dúvidas, apesar de minha propensão ao ceticismo irrefreável, característica do meu ofício. Além disso, interpretações teológicas menos ortodoxas dos evangelhos apontam para uma ressurreição simbólica do homem que venceu a morte para comprovar que todos temos direito à vida eterna. Não teria sido uma ressurreição corporal, mas a restauração do seu espírito de amor e de compaixão pela humanidade.
É uma bela discussão. Estava exatamente lendo alguns textos sobre esse tema quando tive que deixar o computador por alguns instantes para o almoço. Quando voltei, a tela de espera me aprontou uma dessas enigmáticas surpresas tecnológicas que os algoritmos explicam, mas os leigos têm dificuldade de entender. Mostrava uma construção de pedras antigas e a seguinte observação, em bom português:
– Você está perdoado se pensou que isso era uma tumba medieval.
Bom, pelo menos estou perdoado. E o túmulo, como constataram os cientistas, estava mesmo vazio.