No dia em que ocorrer uma verdadeira revolução dos bichos, os burros e os elefantes certamente levarão Hillary Clinton e Donald Trump à Corte Suprema (ou Marcial) por assédio moral e uso degradante de imagem. A baixaria entre os dois candidatos na recente disputa pela presidência dos Estados Unidos constrangeu até mesmo o mais insensível dos animais, o bicho homem, que tem esse costume doentio de explorar outras criaturas da natureza.
O Partido Democrata, de Hillary, adotou o jumento como símbolo numa campanha em que o candidato presidencial Andrew Jackson era chamado depreciativamente pelos adversários de "jackass", que em inglês significa burro. Porém, o tal Andrew era mais inteligente do que supunham os republicanos, pois aproveitou a brincadeira para adotar o burrinho como símbolo de trabalho e resistência. Pegou, principalmente depois que o chargista de uma revista de grande circulação começou a usar o jegue nas caricaturas dos democratas. O mesmo ilustrador criou o elefante para os republicanos, que acabaram adotando o paquiderme como símbolo oficial, sob o pretexto de que ele representava força e inteligência.
No Brasil, o bichinho de maior prestígio na representação política é o tucano, adotado pelo PSDB, embora tenhamos também uma pomba (PSB), um peixe (PSC) e até uma abelha (PHS), todos cuidadosamente escolhidos de modo que as siglas possam atribuir a si próprias algumas virtudes dos respectivos animais. Evidentemente, nenhum deles foi consultado.
Tampouco o foram os dois célebres bichos lançados como candidatos a cargos públicos em nosso país: a rinoceronte Cacareco, eleita com 100 mil votos para a Câmara de Vereadores de São Paulo, e o macaco Tião, terceiro entre 12 candidatos à prefeitura do Rio. Ambas as candidaturas foram lançadas por gozadores da imprensa. Num tempo em que os eleitores podiam escrever o que quisessem nas cédulas, a brincadeira viralizou e ganhou repercussão internacional. Os políticos não acharam muita graça: Cacareco, dois dias depois da eleição paulista, foi devolvida às pressas para o zoológico do Rio, mas o chimpanzé Tião, que recebeu cerca de 400 mil votos, viveu como celebridade na capital fluminense até morrer de diabetes aos 34 anos, pelo que o município decretou luto oficial de três dias. Gozação até na homenagem póstuma.
Como ensinava Aristóteles, o homem é mesmo um animal político – infelizmente mais político do que animal.