Conto-lhes, de saída, um pequeno segredo: gostei muito do filme Aquarius. Apreciei demais a competente interpretação de Sônia Braga para a jornalista destemida que defende bravamente seu apartamento e seus valores, suportando a pressão de uma poderosa e nada ética empresa imobiliária, da mesma forma como encara os conflitos da vida com a coragem de quem venceu uma doença letal.
Mas amei também Pequeno Segredo, o filme brasileiro indicado para o Oscar, que estreou na semana passada. Estava com essa curiosidade irresolvida desde que se instaurou a polêmica gerada pela manifestação política do elenco de Aquarius em Cannes. Na ocasião, vale lembrar, atores e diretores aproveitaram a visibilidade mundial para denunciar como golpe a articulação parlamentar que afastou a presidente Dilma Rousseff do poder. Poucos dias depois, uma comissão do Ministério da Cultura, já sob o governo Temer, considerou que Pequeno Segredo tinha "mais cara de Oscar" do que o até então favorito Aquarius. Com a guerra ideológica deflagrada, ficou impossível saber qual dos dois merecia mais a indicação.
Quanto a isso, não me atrevo a opinar. Deixo para os especialistas, que sabem avaliar curtas e longas por parâmetros técnicos, artísticos, dramáticos e outros mais. Meu critério é o coração. Às vezes sequer consigo explicar porque gostei ou não gostei. Meu julgamento é emocional, pessoal e intransferível. Respeito quem pensa diferente.
Seria mais fácil e menos comprometedor dizer que os dois filmes são ótimos, que têm conceitos diferentes e que ambos mereciam representar o Brasil. Tudo bem, mas não subirei neste muro – ainda mais depois que a referida edificação virou símbolo da campanha de Donald Trump. Humor nele: já andam dizendo que a barreira na fronteira mexicana terá a função de impedir a saída de norte-americanos para o país vizinho.
Voltando ao confronto cinematográfico, gostei mais da história de Kat, a menina adotada pela família Schurmann. Ao contrário da Clara de Sônia Braga, ela não venceu a sua doença letal. Poderia ser uma história deprimente, mas o diretor David Schurmann – integrante do clã de velejadores – conseguiu transformá-la num filme terno e sensível. Levou algumas pancadas, principalmente por conta da controvérsia política. Seu filme foi considerado "um oceano de clichês e sentimentalismo". Até pode ser. Mas a gente, ou pelo menos gente como eu, sai do cinema com a alma leve.
Aquarius tem a obstinação de um cupim devorando a mais resistente das madeiras. Pequeno Segredo tem a delicadeza de uma borboleta voando sobre o mar. Essa analogia não é gratuita. Vejam os filmes e tirem suas próprias conclusões.