O entusiasmo da jovem professora é contagiante. Todos os dias, como aqueles pregoeiros da Idade Média, ela percorre os corredores da Redação, entre jornalistas hipnotizados por telas luminosas, alardeando em voz suave o seu produto:
– Laboral! Laboral!
Poucos lhe dão atenção. Deveriam, pois o que ela oferece é um antídoto poderoso para os males do sedentarismo, do estresse e da tecnologia. Aldrielle é professora de Educação Física e orienta sessões de ginástica laboral para profissionais que passam horas sentados diante do computador, muitos em posições convidativas às hérnias de disco e a outros achaques da coluna vertebral.
A ginástica laboral, evidentemente, não é obrigatória. Mas o ensino da Educação Física para adolescentes tem que ser, ainda mais numa época desconcertante como a que estamos vivendo, com atrações virtuais suficientes para transformar gerações inteiras de jovens em múmias obesas. E não me venham com o Pokémon Go, pois a onda já morreu na praia deserta de surfistas e jogadores de frescobol. A garotada, agora, só exercita os polegares.
Educação Física neles, portanto. Fiz o curso na Esef da UFRGS e, embora não exerça o ofício, sei bem o quanto a disciplina contribui para a formação integral dos jovens, oferecendo-lhes não apenas oportunidades de desenvolvimento psicomotor, mas também estímulo à criatividade e aos valores morais, através de práticas esportivas. Se a reforma do Ensino Médio deixá-los livres para escolher se querem suar ou teclar, vamos perder esta batalha.
Detesto imposições. Mas crianças e adolescentes precisam ser estimulados antes de gostar. Depois, adoram e vão por conta própria. Sei que os professores de Educação Física são hábeis para conquistar corações e mentes antes de chegar a músculos e articulações. Porém, se a reforma transferir para os alunos o poder da escolha, os mestres é que ficarão imobilizados.
Crianças e adolescentes dificilmente terão maturidade e referenciais consistentes para saber que a prática orientada de esportes leva ao desenvolvimento de valores e habilidades essenciais para a vida em sociedade, que ensina a ganhar e a perder, que valoriza o trabalho em equipe, a cooperação e a persistência.
Veja-se, por exemplo, a doce persistência da menina da ginástica laboral. Bastam poucos minutos com ela, alguns alongamentos e flexões, e os sedentários voltam corados e revigorados para suas estações de trabalho.