Ninguém é sério aos 17 anos, sentenciou o poeta Arthur Rimbaud, ele mesmo um jovem inquieto que aos 15 já compunha poemas originais e escrevia diálogos em latim. O francês morreu antes de envelhecer, aos 37 anos, embora na sua época esta já fosse considerada uma idade avançada. Adolescentes não precisam e nem devem ser sérios, pois a graça da transição entre a infância e a idade adulta está exatamente em ser irreverente e ignorar a transitoriedade.
Ainda assim, deve haver uma distinção entre loucura – no sentido de ousar, arriscar e desafiar – e boçalidade, um termo muito usado nos meus tempos de juventude para definir comportamentos grosseiros, imbecis e arrogantes.
Os meninos que destruíram a escola agiram como verdadeiros boçais, se é que o ECA me permite dizer isso. Não são irrecuperáveis, certamente, mas entraram num desvio perigoso da vida, que pode conduzi-los a caminhos sem volta. Tanto saíram da normalidade, que dezenas de outros colegas da mesma idade, provavelmente com as mesmas inquietudes e frustrações, continuam frequentando as aulas sem se tornar violentos por causa de eventuais reprimendas ou notas baixas.
De pequenino se torce o pepino – ensinaram ao mundo os agricultores que descobriram uma forma de moldar o fruto do pepineiro, por meio de uma pequena poda. Assim é também com as crianças. Aquelas que recebem orientação e exemplo – principalmente bons exemplos – desde cedo jamais destruirão escolas e agredirão colegas.
Veja-se, por exemplo, esses milhares de jovens que agora mesmo se reúnem em Cracóvia, na Polônia, para participar da Jornada Mundial da Juventude. Eles partiram em caravanas de várias partes do mundo para compartilhar a fé, mas também a juventude, a alegria e a camaradagem. O lema do evento é inspirado no evangelho de São Mateus: "Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão a misericórdia".
Misericórdia – a palavra é bem adequada para definir o sentimento que todos devemos ter pelos meninos destruidores de escola. Significa um misto de dor e perdão, um desejo imenso de que eles jamais voltem a praticar atos dessa natureza e entendam, enquanto é tempo, que possuem o maior tesouro que um ser humano pode possuir, mas que ele é transitório como a gota de orvalho numa pétala de flor.