Não se trata de comparar qualidade ou trajetória de Diego Costa e Gilberto, dois jogadores que nem precisam do número 9 na camisa porque têm o número tatuado no corpo. Os caras que comandam os ataques de Grêmio e Juventude são protagonistas do sonho de cada uma das torcidas porque é neles que está depositada por esta massa enorme de gente a maior expectativa de solução para a final do campeonato.
Os caminhos de Diego Costa e Gilberto têm alguns pontos de contato. Ambos já viveram antes o melhor momento de suas carreiras. Nos seus respectivos últimos clubes, não eram titulares e alguns olhares debruçados sobre eles já tinham aquela condescendência de quem está vendo carreiras perto do fim.
Então, o clube da Serra decidiu apostar no ex-centroavante reserva do Cruzeiro e obteve desta aposta a melhor resposta justo na hora mais grave do Juventude no campeonato. A eliminação era iminente na primeira fase, o que provavelmente acarretaria também a demissão de um treinador que sequer completava três meses de trabalho.
Na goleada fora de casa por 4x0, contra o Guarany, Gilberto fez metade dos gols. Depois, outros dois contra o Paysandu pela Copa do Brasil, o que ajudou o Juventude a passar de fase e ganhar um abençoado dinheiro como premiação. Nas duas partidas contra o Inter e na de ida da final contra o Grêmio, Gilberto passou em branco. Correu à exaustão, incomodou os zagueiros dos gigantes minuto a minuto, teve cãimbra, viveu intensamente os três jogos.
Neste sábado (6), com transmissão da RBSTV, Gilberto terá pela frente a zaga do Grêmio. O time do Juventude inteirinho vai jogar para Gilberto ter uma bola ou duas que virem gol. É bem provável que, no melhor ou no pior cenário, Gilberto nem chegue ao final do jogo. Mas por certo será a maior esperança de gols do Juventude enquanto estiver em campo.
Já Diego Costa vivia dias de banco de reservas no Botafogo, como tinha sido no Atlético-MG. Nos dois cenários, havia titulares afirmados no ataque, ele chegou em meio à competição e sabendo que não seria protagonista como fora no Chelsea e no Atlético de Madrid. Como nunca tinha jogado em clube grande do futebol brasileiro, Diego Costa pode ter pensado que valia a pena encarar os dois desafios tão distantes de sua realidade europeia.
Terminada a temporada em que o Botafogo saiu de virtual campeão brasileiro para uma decepção em letras garrafais, o centroavante cogitava voltar à Europa e jogar onde conseguisse. A família estava lá, a conta corrente no banco, recheada por muito dinheiro ganho em anos e anos de suor e artilharia.
Então, surge o interesse do Grêmio e, especialmente, de Renato Portaluppi. O treinador sabia com exatidão o papel que daria a Diego Costa e conseguiu convencê-lo de que o contexto que o esperava seria diferente para melhor comparado às duas experiências anteriores.
Diego Costa topou — não por caridade, já que está sendo muitíssimo bem pago para estar onde está — e, mais do que aceitar, mergulhou na missão. Chegou pedindo pelo menos 15 dias para entrar em forma, entrou. Fez gol de falta na estreia contra o Guarany na Arena e, desde então, desandou a marcar gols pelo clube.
Ele era um dos pouquíssimos atacantes no mercado que não se importaria de ser o substituto de Suárez, a tarefa não soaria demasiada ou impossível para quem tinha Copa do Mundo pela seleção espanhola, campeonato espanhol pelo Atlético de Madrid e título continental pelo Chelsea.
A torcida soube reconhecer de imediato o esforço do novo reforço em dar o melhor de si. Estabeleceu-se de pronto uma conexão entre quem torce pelo Grêmio e a personalidade resiliente do centroavante. Neste sábado de Arena lotada, o nome de Diego Costa será saudado como um gol quando o locutor anunciá-lo antes do jogo e sua figura aparecer no placar eletrônico.
Os protagonistas que não entram em campo
Se em campo os protagonistas parecem claros, do lado de fora os comandantes também têm suprema relevância nos destinos dos seus times. Para Roger, ser campeão gaúcho pela segunda vez na carreira soaria como renascimento.
Estava parado desde sua saída do Grêmio ainda na Série B, já tem uma natural valorização por levar o Juventude à decisão eliminando o favorito da competição e teria na conquista do título do Gauchão a cereja mais doce para voltar à prateleira dos técnicos de primeira no futebol brasileiro. O empate no Alfredo Jaconi, como tinha acontecido antes contra o Inter, transferiu tudo para o segundo jogo sem mexer no favoritismo do gigante, o que não impediu o Juventude de jogar com naturalidade e avançar às finais do campeonato.
Para Renato, ser campeão gaúcho não terá qualquer emoção nova que já não tenha vivido nos títulos anteriores do Grêmio. Colocar a faixa no peito manteria o treinador no ápice da idolatria junto à sua torcida e o autorizaria a muitas pérolas na entrevista depois do jogo, aquela em que os treinadores vitoriosos sabem que terão que trocar de roupa porque seus jogadores vão despejar um cooler de gelo em sua cabeça.
De novo, o técnico gremista dribla as dificuldades iniciais de um elenco insuficiente como se ainda fosse o ponta-direita maravilhoso que encheu um baú de faixas de campeão. Quando enfim recebeu reforços, soube utilizá-los a pleno. Não traiu seu jeito de jogar para frente, reabilitou Cristaldo e, apesar de tudo isso, por certo vai pedir novos reforços para a Libertadores, a Copa do Brasil e o Brasileirão.
Com o título, Renato Portaluppi fará o Grêmio heptacampeão pela segunda vez em sua história e habilitará o sonho do octa no ano que vem, título que o só o Inter tem no futebol gaúcho. Para quem gosta de jogar confete sobre os próprios feitos — se eu fosse Renato, faria igual, a vaidade é uma condição humana que só vira problema quando se transforma em soberba —, Renato Portaluppi está muito perto de desfrutar este prazer mais uma vez.