Nada impede que vejamos neste domingo um dos melhores clássicos da história, o imponderável habita o futebol com a naturalidade de quem entra na sua casa e abre sua geladeira para comer o último pedaço do pudim que sobrou.
A lógica, porém, sinaliza um dos Gre-Nais mais tensos da era recente deste secular enfrentamento. O Grêmio é o favorito que eu destaquei no título. Se ambos estão jogando pouquíssimo, há um dos gigantes que joga ainda menos no momento. É o visitante da Arena.
Este time do Inter está abusando da resiliência da sua torcida. A tabela de quatro jogos perdidos em sequência por 2 a 0 já seria doída o suficiente, mas a falta de desempenho contra quem quer que seja torna a vida de colorados e coloradas mais difícil.
Mano Menezes demorou para dar entrevista depois da derrota para o time reserva do América MG. Só apareceu depois de se certificar junto ao grupo de jogadores que ainda há margem para recuperação.
Nas palavras do treinador, o Inter desceu até o limite. Daqui, só pode subir. O raciocínio soa um tanto simplista, combinemos. É preciso mais do que concluir pelo piso do porão para crer que as coisas vão melhorar.
De uma forma ou de outra, como em outras tantas vezes na história deste jogo, há um técnico que chega com o emprego pendurado. O primeiro a saber que derrota domingo é o fim da linha é o próprio Mano. Se a constatação determinará a estratégia para enfrentar o Grêmio, saberemos quando a bola rolar ao entardecer.
Do lado gremista, a cena só é melhor porque Luís Suárez fez um gol antológico e empatou um jogo que o Grêmio perdia merecidamente para o Cruzeiro. O gol da sobrevida até a decisão no Mineirão estabeleceu um salvo-conduto para o clássico.
Mas a lentidão do meio-campo é paquidérmica. Para solucioná-la, Renato Portaluppi teria de mexer numa peça. Ou Vina ou Cristaldo seria sacrificado para o ingresso de Galdino ou Zinho. Entre os dois, o meia-atacante vindo do Ceará ainda seria mais candidato a sair porque sua entrega diminui jogo a jogo.
No quesito técnico ou físico, Vina está devendo mais do que Cristaldo. O argentino deu um passe mágico para o gol do meia-atacante no Gre-Nal do Gauchão. Era um tempo em que o Grêmio desfilava passes envolventes no meio-campo e ganhava jogando bonito.
Com a ausência de Pepê e o desgaste de Bitelo, o conceito fica comprometido contra o Inter. Defensivamente, Fábio e Reinaldo são insuficientes mesmo quando no melhor da forma física. No entanto, o alívio para eles é que do outro lado vem o pior ataque do Brasileirão.
Então, fazendo todas as contas para projetar o Gre-Nal, chegamos de novo à figura mítica do atacante uruguaio que já se pagou com sobras. Além do título gaúcho com gol dele, mais de 30 mil novos sócios vieram para o clube. Faça a conta do que isso representa em dinheiro e verá que Luís Suárez está pago.
Depois de um período sem gols e muitas dores no joelho, ele surge reforçado em sua imagem messiânica. A esperança gremista para o clássico está toda concentrada em Luís Suárez. Já houve vezes em que a esperança estava na estátua. Hoje, não.
Afinal, Renato Portaluppi anda se atrapalhando em gerir pessoas, seu forte, e na leitura de jogos, onde também é excelente. Não perdeu prestígio junto à torcida como ídolo, isso jamais vai acontecer. Mas a fala do treinador aos microfones cativa menos seus seguidores do que em dias passados.
Tudo sempre pode mudar com vitória em Gre-Nal, é verdade. Ela não bastará por si só, mas pode resetar o arquivo morto dos últimos resultados e desempenhos e começar outro ciclo. Neste momento, sem nenhuma alegria ao escrever, concluo que nossos gigantes não são candidatos ao título do Brasileirão.
Mesmo na Copa do Brasil, sequer são favoritos a passar de fase. O Grêmio enfrentará um Mineirão lotado, um Cruzeiro que já o venceu pelo Brasileirão e jogou melhor na partida de ida da Copa do Brasil. O Inter, com ataque ineficaz, terá de fazer três gols no América-MG no Beira-Rio para ir adiante. Não há sinais que me autorizem otimismo nestes confrontos.
O Gre-Nal, porém, antecede estes jogos tensos futuros. O jogo da tardinha do domingo pode definir novos rumos lá e cá. Pode demitir treinador. Recuperar jogador sob desconfiança. Consolidar idolatria em que já é extraclasse. Apresentar um inesperado herói de ocasião.
O valor intrínseco do clássico estará intacto na Arena. A Gaúcha fará cobertura do tamanho do jogo desde muito cedo. E depois tem Bate Bola no canal do YouTube. Será um grande dia.
A maturidade do City
Já na Arena, antes de Grêmio x Cruzeiro, vi um dos maiores passeios da história moderna do futebol mundial. O que o Manchester City de Guardiola fez contra o Real Madrid de Ancelotti ficará na história porque não se faz 4 a 0 no campeão da Liga todos os dias e que poderia ter ido a sete não fosse o goleiro Courtois.
O time inglês parece, enfim, maduro para conquistar sua primeira Liga dos Campeões. Do outro lado, uma Inter de Milão muito inferior, mas acostumada a jogar partidas deste tamanho. O time italiano vai a Istambul como desafiante. O City, favorito escancarado.
Como Guardiola vai trabalhar tanta euforia é a régua da facilidade com que conquistará o título ou decepcionará os árabes donos do clube. Halland, por exemplo, comemorou a ida à decisão com a bandeira do seu país às costas. Parece precipitado. Bandeira nas costas é para medalha no peito.
Se prevalecer a lógica, o Manchester City será campeão goleando a Inter na Turquia. Se não estiver escalado na Gaúcha para comentar o jogo, eu mesmo farei um almoço diferente para ver esta final encantada. Com Gael no colo.