Talvez você, torcedor ou torcedora gremista, esteja com as compras de Natal em mente neste momento. Desta forma, é possível que não tenha percebido que o presidente Alberto Guerra trabalha em velocidade elogiável neste fim de ano. Alberto Guerra age otimizando todo recurso disponível, o que inclui pedir socorro a gremistas milionários dispostos a evitar que 2023 seja remotamente parecido com 2022, o ano do resgate, ou 2021, a temporada da dor absoluta de passar todo Brasileirão em zona de rebaixamento até cair de fato na última rodada. Uma agonia que parecia infinita acabou durando dois anos, o da queda e o do acesso. O ano seguinte está nas mãos do jovem e ambicioso — entenda como elogio —presidente gremista.
Não há dinheiro na mesma proporção em que existe a urgente necessidade de qualificar o elenco para zerar qualquer sobressalto nesta temporada de travessia pós-retorno à Série A. Então, Alberto Guerra tem se reunido com gremistas bem-sucedidos em busca de soluções reais e materiais para que se construa elenco e time competitivos. Bem-sucedido, aliás, é uma expressão que cabe usar neste início de trabalho do presidente. Pode-se discutir Reinaldo, por exemplo, e a contribuição que tenha a dar em azul, preto e branco. Já não foi bem no São Paulo, perdeu a posição para um jogador da base e não conseguiu recuperá-la de vez até o fim de 2022. Reinaldo pode ser o teto indesejável para laterais-esquerdos talentosos produzidos na base que precisam de chance para mostrar competência. No entanto, havendo convicção de que Reinaldo tem a contribuir com sua experiência e batida na bola, vai para as mãos de Renato Portaluppi a condução deste processo. As outras contratações do Grêmio até agora mostram arrojo e visão de mercado. Os meio campistas gringos não parecem chegar porque são gringos. Carballo e Cristaldo trazem no automático uma ideia de meio-campo de bom passe e boa técnica, o oposto do que o Grêmio teve durante a Série B. Renato Portaluppi pode fazer Villasanti, Carballo, Pepê e Cristaldo no quarteto central. Bitello tem potencial para derrubar um destes titulares, o desenho de 4-2-3-1 pode virar um clássico 4-4-2 como a Argentina reabilitou durante a Copa do Catar.
Mesmo se Cristaldo for adiantado para jogar no lado, o essencial estaria preservado nesta concepção que resgataria o melhor desenho que o Grêmio encontrou desde Roger Machado em 2015, avançando pela consolidação destas ideias com Renato no ano seguinte, quando vieram os títulos. Foi gasto muito dinheiro a partir da venda de talentos da base, o Grêmio esqueceu a própria receita e pagou caríssimo por isso. Passou. Ferreira volta, Diego Souza talvez tenha Suárez como barreira intransponível, começa a sobrar qualidade em setores básicos de um time de futebol que pretenda ser competitivo.
Há pedregulhos pontudos e de bom tamanho na trajetória gremista para 2023. A dupla de zaga já foi a melhor da América Latina. Ninguém jogou futebol como Geromel e Kannemann em 2017. Eu anunciei durante uma transmissão da TV Globo naquela Libertadores a dobradinha como a melhor do continente. Não era exagero, não, só o reconhecimento do que faziam dois defensores extraordinários. Aquele nível de atuação rendeu a Geromel convocações para a Seleção Brasileira e para Kannemannn, chamadas à seleção argentina. O tempo passou, como passa para todos nós. Ainda jogam muito e podem render juntos. A diferença é que a dupla precisará de atenção dos marcadores do seu meio-campo. Geromel e Kannemann, protegidos, farão ótima temporada. Expostos, talvez cometam muitas faltas, vão sofrer. A defesa inteira é experiente, Suárez também caso sua contratação seja confirmada, Diego Souza já está aí. Sempre haverá, no contexto de ter os melhores em campo, mais da metade do time gremista formado por jogadores cujo esplendor já passou. Brenno, alguém, Geromel, Kannemann e Reinaldo farão uma defesa de muito atalho e pouca velocidade. O meio-campo que arrisquei sem Bitello e com todos os experientes de titulares teria por princípio muita qualidade no trato com a bola. Será o resgate de um jeito de jogar que se esgotou na perda do título da Copa do Brasil retrasada para o Palmeiras.
Com Renato Portaluppi de treinador, improvável supor que ele abriria mão de bom passe e criação no meio. Teve Maicon, Douglas, teve Luan. O modelo 2023 pretende ser uma espécie de atualização do que já deu certo. Respeito quem atua com convicção. A direção gremista mostra ser convicta para fazer a transformação que está em curso. Ao mesmo tempo, aposta alto na condução do jogo ao ritmo da experiência. Se der certo, gênio. Caso dê errado, sempre haverá alguém para perguntar por que montar um time tão velho. De fato, o Grêmio precisaria, no mundo ideal, de 10 reforços. Cinco para o time, outros cinco para o elenco. Alberto Guerra atacou os problemas maiores e já terá uma equipe teoricamente mais competitiva do que aquela que atingiu o objetivo de subir de volta neste 2022. Agora, além do Gauchão, o Grêmio se candidata em competições eliminatórias de maior relevância.
O Grêmio em 2023 será melhor do que o deste ano que termina. Não por inércia ou osmose, mas porque contratou bons jogadores e recontratou um treinador que pode ser discutido por vários motivos, mas certamente saberá conduzir a chegada dos reforços que vêm com dinheiro novo. Quem subiu o Grêmio precisa ser comunicado com transparência que o time terá que ser melhor para evitar novos sobressaltos. Se quem já estava aqui acreditar que Suárez, por exemplo, chega para ajudá-los a ganhar dinheiro com faixa no peito e vaga em competições de excelência, o primeiro passo para uma temporada boa estará dado. Daí em diante, a construção será diária. Antes de a jornada começar, parecem ótimas as chances de 2023 dar certo para o Grêmio.